quinta-feira, 21 de março de 2024

Lula e as más lembranças de um passado que volta a ser realidade

A reunião da semana passada, entre o presidente Lula e seus ministros, me fez lembrar de outra reunião presidencial, essa do governo de Jair Bolsonaro, quando foi gravado o famoso vídeo que revelou o motivo da demissão do então ministro da Justiça Sergio Moro. A reunião de Bolsonaro foi no dia 22 de abril de 2020, com um ano e quatro meses de governo. Não só por coincidência, a reunião de Lula aconteceu com quase o mesmo tempo de governo.


Quando pudemos assistir ao vídeo da reunião de Bolsonaro, com sua espantosa confissão de que iria interferir na Polícia Federal para proteger os filhos e amigos, outra coisa que me chamou bastante a atenção foi a absoluta falta de qualidade do encontro de trabalho das mais altas autoridades do Governo Federal. Pois a reunião de Lula, da semana passada, causou a mesma impressão negativa.


Mais que grotesco, é muito triste — porque no final somos nós que vamos ter que suportar as consequências — saber que Lula usa uma reunião, que deveria ser objetiva e de resultados, para se gabar da sua capacidade política, dando conselhos a subordinados de idade e xingando o presidente anterior de “covardão”. Ele chegou a pedir “mais entusiasmo” ao ministro Rui Costa, na apresentação de PowerPoint dos resultados do primeiro ano de governo. Ora, Costa tem 61 anos, a vida toda fazendo política. E agora com alguém puxando-lhe as orelhas.


E entendo o desânimo do ministro na apresentação do ano de gestão petista. É de cortar os pulsos. Nosso país enfrenta graves problemas, com questões muito mal resolvidas durante anos, que no desenrolar dessa falta de cuidado leva a consequências que afetam duramente a vida dos brasileiros, com problemas, como o avanço da criminalidade e a carência de dinheiro até para comprar o básico em alimentação, além da destruição generalizada das profissões, do comércio e da indústria. 


No entanto, o que se soube pelos vazamentos depois da reunião, o encontro serviu para Lula expor para os subordinados sua total falta de sintonia com as mudanças da política, da tecnologia e de tudo o mais que foi se transformando no mundo enquanto ele envelhecia. Internamente no governo rola o mesmo lero-lero improdutivo que suportamos aqui fora. Mesmo no ordinário da política, o petista descolou-se completamente da realidade, dando conselhos banais e repondo, de forma incessante, platitudes que ele não consegue ver que podem até servir para o engodo eleitoral, porém não são de utilidade alguma para conduzir uma gestão.


Nas reuniões anteriores, Lula já vinha dando broncas nos seus subordinados (tudo gente de idade, como já disse), mas nessa ele teve que encarar o choro sentido de Nísia Trindade, depois da ministra ser cobrada rispidamente pelo agravamento da dengue e o mau atendimento aos Yanomamis. É o modo de ser do chefão petista, que costuma colocar a culpa nos outros quando ele mesmo falta com suas responsabilidades. A ministra da Saúde pode até ter se descuidado da dengue, mas onde andava Lula enquanto os mosquitos estavam proliferando?


Lula está totalmente alienado do que acontece ao seu redor, sem consciência até de cuidar com atenção do que é mais básico, na gestão e também na política, como, por exemplo, deixar de tratar questões sérias no improviso e na sua oratória de palanque. Talvez até de evitar trazer para cá encrencas pesadas que envolvem terrorismo, fundamentalismo religioso resolvido a se impor pelas armas, autocratas com planos imperialistas e outras barbaridades.


Pessoas em altos postos tendem a perder o contato com a realidade, problema que é ainda mais grave em um país sem transparência e cobrança de responsabilidade (vide os juízes do STF), mas Lula como presidente da República é um fenômeno em alienação. E ainda é um reincidente. O cara não é brincadeira: ostenta no currículo o mensalão e o petrolão, entre outros. De volta à cena do crime, como bem disse seu vice, parece disposto a repetir tudo que fez de errado, agora até talvez aperfeiçoando os desastres. 


É verdade também que ele está mal assessorado, como resultado de suas más escolhas. Quando a gente olha para esse governo, só vê as velhas caras e ideias de um passado que imaginávamos que ficaria para trás como uma má lembrança. Para ficar num só exemplo, muito significativo, da Casa Civil é que o presidente da República teria de receber informações precisas sobre o andamento das questões de governo, adiantando ao presidente inclusive táticas para evitar que problemas mal resolvidos fiquem ainda maiores perante a opinião pública.


Mas quem está na Casa Civil é Rui Costa, o desacorçoado do Powerpoint, que faz parte de uma nova oligarquia, agora da esquerda, que domina a Bahia há duas décadas, com ele como governador por dois mandatos seguidos. Após vinte anos, os baianos sofrem com a miséria, oprimidos por criminosos ferozes. Estou falando do crime comum, é claro. Não é na segurança pública, um dos piores problemas brasileiros, que Lula vai poder contar com o ex-governador baiano. Na Bahia está tudo dominado. A realização mais visível de Costa foi a nomeação da sua mulher como conselheira do TCM baiano, cargo vitalício com salário de R$ 37.589. Mas não é essa expertise que Lula vai precisar.  Disso, ele sabe tudo.

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Por José Pires

sábado, 9 de março de 2024

A falência moral de Lula e do STF nas páginas da revista The Economist

Lula tem feito um esforço além da conta para ter destaque internacional e parece que está mesmo alcançando esse realce político. Não é do jeito que ele pretendia, mas o fato é que vem brilhando. É um pária de muita fama, digamos. A revista britânica The Economist publica nesta semana uma matéria que traz um relato sobre um período importante da sua trajetória política, nas relações mais que estreitas dos governos petistas com empreiteiras, como por exemplo a antiga Odebrecht (agora Novonor), quando chegou a ser preso pela Lava Jato, ficando 580 dias na cadeia.


A reportagem da Economist serve para mostrar com nitidez como anda a imagem do Brasil no exterior, neste caso em terreno diverso ao lamaçal em que Lula meteu o nosso país ao aliar seu governo a autocratas como Vladimir Putin, a sua cumplicidade pegajosa com o ditador chavista Nicolás Maduro, além de se aproximar de forma vergonhosa do Hamas — depois do grupo ter trucidado cerca de 1.200 pessoas em um ataque cruel — com as suas declarações estapafúrdias sobre o conflito entre Israel e esses assassinos, na Faixa de Gaza.


A pauta da Economist é o avanço da corrupção na América Latina. O Brasil figura com destaque em um apanhado muito bem elaborado sobre a corrupção na América Latina. A Transparência Internacional trouxe em janeiro um levantamento sobre percepção de corrupção, em que o nosso país caiu dez posições, está com 36 pontos, sendo classificado na 104ª posição, entre 180 países avaliados. Estamos abaixo da média global (43 pontos), da média regional das Américas (43 pontos) e da média da OCDE, em 66 pontos.


Estamos voltando a ser altamente competitivos em negociatas, evidentemente como consequência do sucesso do esquema de esvaziamento do combate à corrupção, no ataque concentrado e bem organizado contra a Lava Jato, com o uso inclusive de hackeamento criminoso de conversas de autoridades da Justiça, além de mudanças abruptas de concepção do STF, até indo contra decisões do próprio tribunal, como foi a derrubada da prisão em primeira instância, uma medida adequada para tirar Lula da cadeia.


Entre os países com as piores avaliações no levantamento da Transparência está a Venezuela, com 13 pontos. Todo mundo sabe do especial apreço de Lula pelo governo deste país, comandado com mão de ferro pelo seu fraterno companheiro Nicolás Maduro. É claro que essas amizades do presidente brasileiro avacalham ainda mais com a imagem do Brasil. O tal do “Sul Global”, que junta uma diversidade de países sem nenhuma sintonia entre si e do qual Lula fala como se fosse um fator de transformação do planeta, é composto na sua maior parte de governos sem nenhuma preocupação com transparência e combate à corrupção. Imaginem a qualidade da relação comercial que pode vir disso. Nas transações em tecnologia poderemos contar com avançadas práticas de impunidade, talvez até trazer para cá mais expertise para o crime organizado.


O levantamento da Transparência cobre o ano passado. Desde então, a percepção de corrupção no Brasil vem aumentando. O pessoal não brinca em serviço. Nos primeiros meses deste ano tivemos vários fatos preocupantes, como a decisão do ministro Dias Toffoli, da suspensão do acordo de leniência de R$ 3,8 bilhões firmado pela antiga Odebrecht, atual Novonor.  Antes, Toffoli havia suspendido a multa de 10,3 bilhões de reais do acordo de leniência do grupo J&F, dos irmãos Batista. A esposa de Toffoli, Roberta Rangel, trabalha para a empresa como advogada. A decisão do ministro no acordo de leniência da Odebrecht, que trata de delitos confessados pela empresa, abre espaço para novas anulações.


A Odebrecht, agraciada com a decisão do ministro do STF de deixar de pagar bilhões, entre 2001 e 2016 pagou quase 800 milhões de dólares em subornos em três continentes. É o que informa a Economist. A revista conta também que é o maior caso de corrupção estrangeira tratado pelo Departamento de Justiça americano. Além dos Estados Unidos, a Odebrecht sofreu processo e foi condenada ao pagamento de multa também na Suíça. Nesses lugares o Supremo não determina retrocessos.


A reportagem lembra também de algo importante, sobre um fato marcante nesta onda organizada do desmonte do combate à corrupção. Foi com a censura decretada pelo ministro Alexandre de Moraes à revista Crusoé, do site O Antagonista. Moraes decidiu pela exclusão de uma matéria na edição de abril de 2019 que trazia Dias Toffoli na capa. A Crusoé tratava de e-mails da Odebrecht que falavam no ministro como “o amigo do amigo do meu pai” (“the friend of my father’s friend”, fica até mais cadenciado em inglês), numa referência a Lula, que era muito próximo de Emílio Odebrecht, pai de Marcelo Odebrecht, dirigente da empresa que foi preso pela Lava Jato. Lula foi quem nomeou Toffoli — seu chapinha, que trabalhava para o PT — para o STF, em 2009.


O STF teve que voltar atrás da censura à Crusoé, devido ao clamor público. Mas estava dado o toque, pode-se dizer, simbólico do processo de ataque a quem combatia a corrupção, com o retrocesso político que tem a soltura de Lula como um fator de união de variadas forças políticas implicadas em ilegalidades, envolvendo todos os poderes da República. A Lava Jato estava descobrindo no emaranhado da rede de corrupção linhas atadas ao Judiciário e já havia chegado até à corrupção do PSDB. Como dizia um poderoso senador, quando os corruptos andavam acuados, era preciso “estancar a sangria”.


Como forma de defesa, articularam o retrocesso ético. As mãos sujas se juntaram, em um pacto para o ataque às mãos limpas, até aqui num esquema que vem obtendo sucesso, com a intimidação da opinião pública e um embaralhamento judicial que faz de detalhes técnicos a chave para soltar corruptos, intimidando a sociedade civil e a imprensa, afetando a própria democracia. Ou o Brasil se livra dessa impunidade ou é como a história da saúva: acaba-se o Brasil.

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Por José Pires

quarta-feira, 28 de fevereiro de 2024

Bolsonaristas na Paulista; a polarização entre a rejeição e a falta de rumo

Militâncias no geral, como acontece com a militância em torno de Lula, devem tomar muito cuidado em sair por aí defendendo bandeiras nas redes sociais, nos embates acirrados que sabemos muito bem que costumam acontecer também nos encontros familiares e entre amigos de longa data. Também é arriscado sair por aí seguindo ordens de Jair Bolsonaro, mas nesta semana quem se danou foi a esquerda. O resultado pode ser de amizades desfeitas, rusgas que acabam com o convívio com parentes e esta desarmonia brutal que aí está, emperrando o funcionamento do Brasil e fazendo deste país um lugar sem rumo certo.


Já no domingo que teve a manifestação bolsonarista na avenida Paulista, em São Paulo, a máquina de propaganda lulopetista havia colocado em andamento uma ação organizada para desacreditar o evento político convocado por Jair Bolsonaro. A máquina petista tentava criar a narrativa da falta de público e de que o ato público não daria em nada politicamente. Ora, foi um sucesso a primeira saída às ruas da direita, depois da desastrada manifestação de 8 de janeiro, quando Brasília foi vandalizada. 


A tigrada vermelha ficou pelo menos dois dias batendo forte numa avaliação absolutamente errada, desmentida por vídeos e fotos da Paulista já no início da tarde de domingo. Houve também a tentativa de confundir a opinião pública quanto a quantidade exata de pessoas que foram ouvir Bolsonaro, uma bobagem retórica facilmente desmentida por uma simples olhada nas imagens. Com a avenida Paulista lotada de gente a militância passou vergonha nas redes sociais. Imaginem as gozações que devem ter aguentado pessoalmente.


E a coisa foi só piorando. Nesta terça-feira, o próprio chefão do PT aceitou o que estava claro nas imagens do ato. "Eles fizeram uma manifestação grande em São Paulo. Mesmo que não quiser acreditar, é só ver a imagem”, disse Lula em entrevista a um jornalista governista.


A militância, coitados, foi desmentida pelo líder depois de passar dois dias acreditando mais nas suas ordens do que nos próprios olhos. Mas tem dessas coisas ser capacho de autocrata. E a direita manteve a animação que vinha desde o domingo, com mobilização nas redes, os vídeos repercutindo a volta às ruas, artigos na imprensa e nos sites, um vigor renovado para uma parcela significativa de brasileiros que se sentiam acuados desde os atos de vandalismo em Brasília. 


Mas a esquerda que se prepare. O evento de domingo foi com certeza um forte estímulo político, provavelmente com efeito na eleição deste ano. Para a próxima eleição presidencial, os indicativos que já não eram bons para o PT ficam um tanto mais negativos. E um ponto bastante interessante neste caso é que algo para o qual a militância vem torcendo de forma idiota, que é a sua prisão, se ocorrer fortalecerá ainda mais seu mito.


O ato de domingo na capital paulista pode ser visto como a cristalização da polarização política que Lula demonstrou que queria manter como um suporte de garantia eleitoral no seu projeto hegemônico de poder. Mas o plano se complica com esta comprovação de que a capacidade de juntar povo — que o PT perdeu há bastante tempo — agora está com a direita. Se Bolsonaro for preso, o acampamento em volta da cadeia vai fazer do acampamento petista na Polícia Federal de Curitiba um ajuntamento merreca de barracas.


Lula sabe dessa deficiência de seu partido, até porque a demolição da capacidade orgânica do PT vem sendo gradativamente feita por ele mesmo, nas alianças espúrias pelo país afora, ano após ano, para disputar eleições com larga vantagem. Atualmente, o PT está numa situação parecida com a do PSDB, arriscando-se ao destino de um grande partido que vai tendo cada vez menos relevância.


A direita corre no sentido contrário, com um horizonte de crescimento que vai sendo alargado pelos anseios da sociedade que a esquerda não soube contemplar. E que não se pense que estou falando de valores moralistas e religiosos. A disfunção esquerdista está nas carências do cotidiano brasileiro: segurança e a falta de aplicação de leis rigorosas contra o crime, pouco desenvolvimento econômico, qualidade de vida cada vez pior, o aumento da corrupção e da impunidade, os desastres naturais que tendem a se agravar, com a dificuldade dos mais jovens num país que oferece cada vez menos esperança para se ter um emprego de razoável qualidade, uma vida digna, com o direito de constituir família sem temer pelo futuro dos filhos. 


O que se pode avaliar no entorno deste domingo com a avenida Paulista lotada é o caldo cultural de um movimento de massas sem precedentes na nossa história recente. O que já era perceptível nos acampamentos na frente de quartéis militares, parece que ainda tem seu vigor. Lula queria polarização e parece que está tendo sucesso. Até aqui este potencial vem sendo mantido pela rejeição fortalecida pelo governo petista, mas esbarra na dificuldade de estar concentrado em uma liderança de covardes e incompetentes — com Bolsonaro como chefe. 


O núcleo dirigente do chamado bolsonarismo não tem capacidade sequer de compreender o fenômeno social do qual se beneficiam, muito menos de organizar e administrar este impressionante anseio popular. Esse pessoal é basicamente dinheirista e mantém-se deslumbrado com a possibilidade de faturar numa quantidade que não tinham visto antes, quando havia a trabalheira de correr de um caixa eletrônico para outro, para juntar a grana que tiravam de servidores de gabinetes.


Falta-lhes uma doutrina sólida, que eles nem tem onde buscar. Com exceções mínimas, não existem líderes com capacidade de pensar e executar um aprimoramento da organização política. E mesmo assim, a rejeição ao PT sustenta a adesão popular, como se viu na avenida Paulista. Lula ajuda muito nisso, com sua total indiferença ao motivo principal da sua eleição: o fim da divisão social em que estava o país, com a criação de um governo baseado na tolerância e na democracia, levando o equilíbrio e a sensatez para o Palácio do Planalto. 


Não é que seja uma surpresa para mim, mas o velhaco passou o ano passado inteiro e segue este ano fazendo o contrário do que prometeu. Eu já sabia que um governo do PT não teria capacidade e muito menos a intenção de trazer paz e dar espaço para que o país cuide de seus problemas, mas Lula é mesmo um bamba na decepção, mesmo quando quase nada se espera dele.


Até nas relações internacionais, onde o governo anterior só trouxe complicações, ele conseguiu ser pior que Bolsonaro. É a decepção costumeira, por menores que sejam as expectativas. Quem é que poderia imaginar que o chefão petista chegaria a acende o antissemitismo entre os brasileiros com tamanha intensidade? Pois acredite. Para seus seguidores, Lula tem razão, mesmo na minimização da crueldade do Hamas e nos xingamentos a Israel, que foi atacado pelo terror. Até nas absurdas sobre o Holocausto, para eles Lula tem razão.


O boquirroto internacional conseguiu marcar o Brasil como um país aliado de autocratas como Vladimir Putin e condescendente com o terrorismo do grupo Hamas. Também ficamos alinhados com o Irã e as ditaduras da África, além dos governos corruptos e ditatoriais do nosso continente, parceiros antigos da esquerda brasileira. O que mais Bolsonaro precisaria para se limpar das suas sujeiras e jogar para debaixo do tapete seu histórico como presidente incompetente?


Com um governante como Lula no poder muitas avenidas Paulista virão. Ao que se indica até aqui, lotadas pela direita. Ao menos por enquanto, não existe nenhum prenúncio da tal da terceira via, que não deu as caras para nos livrarmos desses dois trastes — um da direita e outro da esquerda — na eleição passada. É alarmante? Claro que é. Com a política tomada por uma polarização que produz apenas balbúrdia, atrapalhando a vida dos brasileiros, os mais jovens vão começando a vida já na desesperança e nós, de mais idade, ficamos com a angústia e o sentimento de culpa de que erramos mais do que era aceitável.

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Por José Pires

quarta-feira, 21 de fevereiro de 2024

Susan Sarandon e as tretas da política com Lula e Adolf Hitler

Lula e seu partido resolveram dar uma reforçada no erro, quando seria uma saída razoável manter a crítica ao modo que está sendo conduzida a operação militar de Israel na Faixa de Gaza, fazendo a ressalva quanto à equivalência imbecil com o que os nazistas fizeram aos judeus no Holocausto, que veio até com a menção do nome do Fuehrer. O pedido de desculpas teria o sentido de despojamento, além de respeito a quem se ofendeu, o que é falso tanto em relação ao Lula quanto a seu partido, mas vá lá: anularia o problema, mantendo a posição que Lula deseja expor mundialmente como material de propaganda da sua imagem.


Ora, acabei apontando uma ação prática totalmente fora do sentido petista. Mas cabe no que é preciso dizer sobre a tradição da esquerda brasileira em afundar cada vez mais o Brasil com a incapacidade de se debruçar no trabalho prático da resolução de problemas, a começar pelos mais básicos, deixando de lado seus dogmas e a histórica teimosia que impede inclusive o próprio sucesso das tais “políticas de esquerda”, que do ponto de vista da qualidade de vida da população, depois que o PT é chutado do poder nunca ficamos sabemos que raios é que era  afinal essa joça.


Na insistência em atropelar a lógica e o bom senso pelo caminho errado, agora estão caçando apoiamentos à fala desabrida do boquirroto, para tornar uma alta filosofia qualquer besteira que ele diga. Já colhem aplausos à bobajada sobre a matança feita por Hitler, com o dístico “Lula tem razão”, aliás roubado do que os seguidores de Olavo de Carvalho diziam de seu mestre. Foram os olavistas que disseram primeiro “Olavo tem razão”.


Uma tiete da fala sobre Hitler é a atriz Susan Sarandon. Pois ela serve muito bem como exemplo do despropósito em que a esquerda se envolve, fazendo propaganda política mequetrefe quando deveria desenvolver debates esclarecedores, aprofundando conhecimentos e preparando melhor seus quadros. Mas é sempre assim. E nesta toada, depois de uma vitória eleitoral batem com a cabeça num muro intransponível de burrice e incompetência na hora de governar, porque nesta tarefa precisam contar com energúmenos treinados em debates vazios e mentirosos durante a eleição. E claro que incluo nesses quadros inviáveis as altas lideranças, os apedeutas que chefiam o bando.


Susan Sarandon faz parte de uma militância da esquerda dos Estados Unidos que serve mais para atrapalhar do que para melhorar a nossa vida. Esses azucrinados têm também uma ampla ação na Europa, como foi possível ver nas manifestações que falam em “Free Palestina”, sem mencionar o poder ditatorial do grupo terrorista Hamas sobre os palestinos da Faixa de Gaza. Free Palestina numa ditadura religiosa que matou e expulsou de Gaza os palestinos que tinham opinião diferente? É por aí que vai esse pessoal que apoia Lula e seu partido.


Esta atrapalhação esquerdista se espalha pelo mundo todo e pode acabar com a democracia em muitos lugares, até porque eles prejudicam muito mais quem batalha pela democracia do que os interesses da direita. O resultado prático dessa esquerda é bastante variado, na maioria das vezes absurdamente negativo. Foi o que aconteceu, por exemplo, quando apoiaram Ralph Nader na eleição presidencial de 2000 nos Estados Unidos, que baseou sua campanha na ideia de que não havia diferença entre Al Gore e George W. Bush. Essa é a ideia de gente como Susan Sarandon. Bem, não é preciso falar agora do estrago que causaram.


Depois, eles deram um reforço nos seus desacertos. Em 2016, a atriz fez campanha pesada contra Hillary Clinton. E deu certo: Donald Trump venceu. Sarandon queria Bernie Sanders como candidato, o que comprovadamente daria uma vitória mais fácil para Trump. A posição da atriz soa como traição, pois ao perder na disputa para a escolha do candidato do Partido Democrata, foi depois apoiar um terceiro candidato, uma mulher cujo nome nem vem ao caso porque desapareceu politicamente.


É a velha tática esquerdista de fazer militância de um modo que parece altamente virtuoso, mas que na verdade prejudica muito mais o consenso pela transformação de qualidade na política. São simplesmente radicais emburrecidos por dogmas anacrônicos. Atacando moderados, liberais e progressistas fora da esquerda e levantando pautas que dividem o eleitorado e tiram o foco do essencial, eles exigem um esforço redobrado dos liberais e criam um terreno favorável para a direita, especialmente dos projetos mais antidemocráticos. Sabemos como isso funciona. Há décadas essa deslealdade com o interesse real da população faz parte do ideário da esquerda brasileira comandada pelo PT.


É como atuam sobre esta questão de Gaza, agora numa irresponsabilidade perigosa, pela facilitação à infiltração do fundamentalismo islâmico em países do Ocidente. O Brasil também corre este risco. Mas esse pessoal é duro na queda, são figuras que precisam ser defendidas delas mesmas, até para que não acabem na submissão a regimes que abolem completamente a liberdade humana, inclusive com repressão às mulheres nas ruas, que apanham e podem morrer por não usarem um pano na cabeça.


E a queda no abismo, claro que é embalada por retórica contraproducente. Durante a campanha de 2016, Sarandon foi implacável com Hillary, no que ajudou Trump e até mesmo Vladimir Putin. O ditador russo esteve por trás de hackers que vazaram e-mails usados contra a candidata. Foram extremamente agressivas as críticas da atriz contra a candidata do Partido Democrata, e as porretadas prosseguiram mesmo com a vitória de Trump. A arrogância e a estupidez são inabaláveis. Um ano depois da derrota da candidata do Partido Democrata, a atriz afirmou ao The Guardian que os Estados Unidos estariam do mesmo jeito se Hillary fosse eleita.


É uma figura com esta capacidade de avaliação que os petistas exaltam, por seu apoio à besteira insultuosa dita por Lula. Mas o que dizer de um governo que se escorava até no “janonismo”, como foi chamado o esquema digital de táticas mentirosas e caluniosas lideradas pelo deputado André Janones (este gênio da teoria política que pensava que Emmanuel Macron era o presidente da Argentina)? Qualquer coisa serve para um projeto hegemônico de poder, que está sempre preso a apoios para mascarar equívocos desmedidos e a persistente má-fé.

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Por José Pires

domingo, 18 de fevereiro de 2024

Lula, o presidente do coração amargo e da língua solta

Um traço marcante da personalidade de Lula é sua leviandade com a situação dos países que visita. Por onde passa, ele não tem o mínimo senso de responsabilidade com o que fala. O chefão petista já havia passado do limite na passagem pelo Egito, ao falar sobre a guerra de Israel contra os terroristas do Hamas, em Gaza, usando dados do Hamas como fonte. Mas o pior foi o tom alterado das declarações, na condenação a Israel, que serve apenas para o aumento da tensão na região e elimina de vez o Brasil como mediador do conflito, aliás o único papel que o nosso país poderia ter nesta situação.


E esta é outra confusão reiterada de Lula nas viagens, na sua inconsciência do peso modesto do Brasil como ator global, quase sem potência alguma para pressões econômicas e muito menos do ponto de vista do poder militar. Uma boa travada que poderia ser dada nessas suas encenações bravateiras, quando tenta capitalizar em cima de situações graves sem ter nada de sólido a oferecer, seria sugerir um papel bem difícil de assumir numa dessas confusões. No Oriente Médio, por exemplo, o governo petista podia ser convidado a assumir a responsabilidade militar e estrutural da organização geral na Faixa de Gaza depois da retirada da Força de Defesa de Israel. Acho que Lula ficaria caladinho.


Com a falta de semancol internacional do falastrão, em um ano de governo o Brasil perdeu completamente sua histórica respeitabilidade como um país empenhando em atuar por acordos e a minimização de discórdias. No gogó irresponsável, Lula fez do nosso país um interlocutor indesejável, a não ser, é claro, quando em algum lugar precisarem de gasolina no fogo.


A sua fala que virou manchete em toda a mídia internacional é tão fora de propósito que parece ter o Hamas como ghost writer. Ele trouxe a retórica canalha da equivalência cruel entre Israel e os nazistas. Bem, segue a linha de quem insiste em uma equivalência entre um país atacado por terroristas e os agressores, do mesmo modo que faz com a Ucrânia e a agressão da Rússia.


É a fala de um cretino desumano, uma estupidez que até militância de rede social sabe que tem que evitar. O Holocausto é um assunto delicado para toda a Humanidade. Morreram seis milhões de judeus de forma planejada na Alemanha nazista. E cabe apontar contextos importantes. Na época, a população dos EUA era de 130 milhões. Atualmente é de 330 milhões. Israel tem 9 milhões.


“O que está acontecendo na Faixa Gaza não existe em nenhum outro momento histórico, aliás, existiu, quando Hitler resolveu matar os judeus”, foi o que ele disse, numa cretinice espantosa mesmo vindo de um governante que o mundo sabe que nada tem a oferecer que não sejam opiniões banais, a maioria delas equivocadas no sentido histórico e na possibilidade de  realização, entremeadas de grosserias inacreditáveis.


Na fala contra os judeus, ele fez questão de trazer até o nome do Fuhrer, chefe de uma máquina organizada de assassinatos em massa, sobre quem, por sinal, ele já disse que admirava a “disposição, a força, a dedicação”. E não se pode dizer que Lula não seja também um cara dedicado. Se alguém pensava que Jair Bolsonaro era o fundo do poço em matéria de grosseria e desmoralização da imagem internacional do Brasil, o petista mostra que pode cavar bem mais fundo.


Uma das melhores definições sobre Lula foi feita pelo sociólogo Chico de Oliveira, que foi um dos fundadores do PT e conhecia o petista desde o tempo de sindicalista — ele deixou o partido em 2003, depois de ser miseravelmente atraiçoado. Morreu em 2019. Ganha até de Alckmin, que falava da volta à cena do crime. Oliveira disse que Lula “não tem caráter”. O sociólogo foi certeiro. De fato, Lula é amoral. 


O petista é indiferente politicamente e até do ponto de vista pessoal. Mesmo a compaixão é zero. Não tem senso de humanidade nenhum: suas manifestações emocionais em público são premeditadas, buscando um ponto em que possa levar vantagem apelando ao sentimento dos mais pobres, mas na verdade, o que pensa de fato sobre as pessoas transparece nos seus atos falhos. Um exemplo é o menosprezo desumano da sua declaração recente, quando disse que “nenhuma mulher quer namorar um ajudante geral”.


Ele é amoral em qualquer questão. O que importa é onde e como pode lucrar com seu posicionamento. Daí a agressão injustificada aos judeus nessa sua desastrosa viagem ao Oriente Médio e a alguns países da África, ao mesmo tempo que se negou a se posicionar sobre a morte de Alexei Navalny, principal opositor do presidente russo Vladimir Putin, morto aos 47 anos na prisão, exatamente quando ele atacava Israel.


Mas é só uma questão de oportunidade. Ele mudaria com facilidade de opinião, se fosse mais vantajoso fazer o contrário — com críticas a Vladimir Putin pela morte do opositor e elogios a Israel no conflito em Gaza. Assim é o Lula. É preciso lembrar sempre do aviso do seu antigo companheiro Chico de Oliveira. Ele não tem caráter.

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Por José Pires

terça-feira, 30 de janeiro de 2024

Israel versus Hamas: uma luta da liberdade no Ocidente

Nesses dias vem rolando com sucesso nas redes sociais a foto de uma mulher, soldado das Forças de Defesa de Israel, levando preso um terrorista do Hamas. A cena revela um contraste importante nesta guerra na Faixa de Gaza, depois do ataque criminoso do grupo terrorista, na invasão de 7 de outubro, quando os terroristas mataram em único dia cerca de 1200 pessoas, com uma crueldade impressionante, fuzilando jovens desarmados em um festival de música, aniquilando famílias inteiras, torturando idosos e crianças, para depois sequestrar com violência mais de uma centena de reféns. Ainda estão em poder do Hamas 110 reféns e 19 corpos permanecem em Gaza.


A foto da militar israelense em ação simboliza muito bem uma diferença que precisa ser levada em conta no conflito em Gaza. Naturalmente, terroristas que obedecem fanaticamente doutrinas de forte conteúdo machista devem ter detestado a imagem. A Faixa de Gaza é dominada por uma ditadura religiosa, onde direitos femininos não existem. É muito parecido com o Irã, que de fato manda no Hamas. No país dominado pelos aiatolás, como se sabe, mulheres são reprimidas por milícias religiosas na rua se deixarem visíveis os cabelos. Elas podem até ser mortas, como aconteceu recentemente.


Chega a ser ridículo a lacração de jovens exaltados nas ruas de países europeus e dos Estados Unidos, com algumas moças usando panos na cabeça como um charme estético. Em Gaza ou no Irã, essas mulheres seriam obrigadas a se cobrir e sair de cena. Até homossexuais caem no engodo de lideranças enganadoras, que esperam apenas o momento certo para dar o golpe mortal.


Do mesmo modo que mulheres são tidas como seres de segunda categoria, homossexuais não são tolerados em nenhum país de governo islâmico. Podem ir para a prisão ou sofrer castigo pior. As condições carcerárias são do pior tipo. As condenações nesses países sempre tem um tom de humilhação, com um descaso absoluto de qualquer respeito humano. As punições costumam ser públicas. A liberdade individual comum nos países em que manifestantes gritam de ódio, pode dar em açoitamento, até pena de morte e mesmo linchamento nos lugares onde mandam governos como o do Hamas.


Será que é tão difícil assim imaginar o que querem para o mundo tipos como os terroristas que massacraram os jovens no festival de música? Esta não é uma guerra apenas de Israel, nem mesmo exclusiva dos judeus, que estão agora lutando para manter a única democracia do Oriente Médio. Por detrás do Hamas, da parte dos financiadores dos terroristas, que estabelecem as estratégias e determinam as ações criminosas, o plano é a desestabilização das democracias ocidentais. Faz parte desse plano horrendo a chantagem política com o lamento mentiroso pelas vítimas civis da guerra, que sempre foram usadas pelos terroristas como escudos humanos.


Daí o contraste dessa foto que viralizou na internet. A mensagem é clara. Em Israel o regime político é secular. A liberdade é plena, evidentemente estendida às mulheres, o que não acontece em países islâmicos, muito menos na Faixa de Gaza. É fácil conferir o que estou dizendo. Observe a ausência de mulheres em atividades públicas durante este conflito. Não aparecem nem nas cenas de resgate, nos lugares bombardeados. Mesmo nos hospitais. Estão sempre em segundo plano e totalmente encobertas com panos, inclusive mantendo os cabelos bem encobertos ou podem apanhar na rua, como no Irã.


Com Israel acontece o contrário, o que mostra a foto da guerreira arrastando o terrorista. Por sinal, esta presença atuante da mulher israelense deve ser um dos motivos do ódio raivoso dos terroristas do Hamas. Durante a invasão de 7 de outubro foi marcante nas atrocidades os abusos e humilhações dirigidos às mulheres. Vídeos e fotos mostram a intolerância criminosa do Hamas com a liberdade feminina. A alegria dos jovens no festival de música ao lado da fronteira entre Israel e Gaza, com as moças vestidas sem limitações morais, provavelmente deve ter aguçado o ódio dos assassinos fanáticos.


Estas são questões que deveriam ser melhor observadas por quem se expõe criando um clima de fortalecimento do grupo terrorista Hamas, que no fundo é o resultado dessas manifestações de rua e posts nas redes sociais, mesmo quando mascaradas como apelos à paz e preocupação com vítimas inocentes. Não esqueçam que os bombardeios terroristas mirando em alvos civis acontecem até agora sobre Israel.


Cabe lembrar também que essa guerra começou com as atrocidades do Hamas na invasão à Israel, com uma violenta matança de mais de mil pessoas, estupros, abusos contra crianças e idosos, uma violência cruel contra inocentes, além do bombardeio maciço de mais de cinco mil foguetes dirigidos às cidades em apenas um dia.  Só não morreu mais gente no 7 de outubro e não acontece uma mortandade em Israel até agora porque, ao contrário do Hamas, os israelenses procuram primeiro proteger a população civil. Não fazem de escudo os inocentes.


Estou do lado dos que desejam que a imagem da moça de Israel conduzindo o terrorista — a liberdade submetendo o terror — seja o que nos reserva o futuro desta guerra que não é apenas dos israelenses. O Hamas, com seu amplo significado de opressão e terror, faz parte de um plano contra todos nós. O que aconteceu no 7 de outubro tem que ser visto como um alerta sobre os riscos que corre a democracia, uma revelação violenta de uma estratégia criminosa de aniquilação de direitos e da liberdade.

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Por José Pires

quinta-feira, 14 de dezembro de 2023

A queda de Sergio Moro aos risos e abraços com Flávio Dino

Um dia ainda saberemos qual foi a razão de Sérgio Moro escolher a quarta-feira, 13, da aprovação de Flávio Dino como ministro do STF, para cometer um suicídio político em público. Como se sabe, antes do início da sabatina na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado, o senador trocou risos e deu abraços apertados no ministro indicado por Lula. E logo com quem. Dino tratou Moro muito mal por várias vezes, inclusive em desrespeito ao cargo de parlamentar.


Claro que o ministro da Justiça e agora juiz no STF seguia uma pauta rígida ordenada por Lula desde sua passagem pela prisão, de ataque cerrado ao ex-juiz da Lava Jato, sobre quem o petista já havia revelado, com muito ódio, o que queria fazer, usando para isso um palavrão, coisa comum na sua linguagem fora dos microfones. 


Fico curioso de saber qual foi a estratégia política do ex-juiz da Lava Jato para expor-se em amabilidades até afetuosas com Dino, mas por enquanto Moro está calado. Se nega a responder até qual foi o seu voto na CCJ e depois em plenário, mas conseguiu espalhar em todas as redes sociais a desconfiança sobre sua posição, antes mesmo da sabatina ter início no Senado. Foi enorme a quantidade de internautas que o acusavam de ter feito um acordo para salvar seu mandato, cuja cassação pode acabar sendo decidida pelo STF.


Com a repercussão negativa nas redes sociais, durante a sessão Moro teve a assessoria de uma pessoa identificada como “Mestrão”, que o alertava em conversa de WhatsApp a não dizer qual seria seu voto. Mestrão informava que o “coro [sic] está comendo” nas redes sociais. Por isso, dizia o amigo oculto, “não pode ter vídeo de você falando que votou a favor, se não [sic] isso vai ficar a vida inteira rodando”.


O especialista em comunicação acertou nesta última observação. A atitude vai mesmo ficar “a vida inteira rodando”. O comportamento de Moro na sessão que consagrou seus inimigos políticos acabou tendo um efeito negativo pesado, como se fosse a finalização política do que até agora a Lava Jato tem sido na vida do senador, com a impressionante ligação natural na sua imagem política. Até agora mantinha-se forte esta relação, que favoreceu o sucesso da sua entrada na política, mesmo com tantas burradas cometidas por ele, entre elas o apoio explícito a Jair Bolsonaro nesta última eleição, quando chegou a comparecer aos debates do candidato na televisão.


Na minha visão, esta forte associação teve um baque forte nesta quarta-feira, 13. E aqui volto à minha curiosidade sobre a estratégia que levou aos afagos com Dino. O comportamento de Moro tem que ser caracterizado de muito tolo, mesmo se ele tiver feito algum acordo com o agora ministro do STF. E se não existe nenhum acordo, os risos e abraços foram de uma estupenda burrice.


É impossível acreditar em boas chances para Moro se o processo da sua cassação chegar ao STF, sendo menor ainda a possibilidade de que Dino não vá influenciar seus colegas para evitar um corte brusco na sua carreira política. Moro se enfraqueceu perante o jogo sujo que armaram contra ele. Na excessiva amabilidade na sessão da CCJ ele jogou fora um trunfo político importante que deixava seus inimigos em dúvida sobre a cassação.


A perda do mandato faria de Moro uma vítima de perseguição política injusta. Isso poderia dar a ele um peso talvez definidor na eleição do ocupante da sua cadeira. Sem as cenas patéticas com Dino, eu arrisco a dizer que uma candidatura apoiada por Moro dificilmente seria derrotada no Paraná. Mais que isso, com a cassação vista praticamente como uma violência política, nas eleições do ano que vem seria ainda mais forte a influência pessoal de Moro.


Os fortes abraços em Dino abalaram bastante este prestígio político e por consequência diminuem os temores dos adversários do provável fortalecimento da imagem do senador paranaense. Este enfraquecimento fatalmente vai intensificar a movimentação pela sua cassação.


Seu comportamento nesta quarta-feira, 13, eliminou a tolerância até dos que já haviam se distanciado de Moro, mas que apesar de tudo ainda tinham alguma confiança na sua honestidade política. É muito forte também a decepção entre as pessoas que o apoiavam, em grande parte devido à associação natural de que já falei, no vínculo histórico da sua imagem política com o combate à corrupção feito pela Lava Jato. 


Com os setores políticos mais à direita foi de arrasar as cenas da doce doce confraternização com Dino, que tinha como atividade preferida a de bater nos políticos bolsonaristas nos encontros nas comissões do Congresso. Moro definitivamente se desligou dessa militância, podendo esperar fogo pesado dos bandos direitistas que só tem os petistas como equivalentes em crueldade política e grosseria nas redes sociais. 


Como em política importa bastante a avaliação por projeção, o “Mestrão” podia passar ao Moro  recados preocupantes para seu futuro político, com essas encrencas que provavelmente ficarão mesmo “a vida inteira rodando”. Entre seus adversários, os temores sobre sua cassação praticamente zeraram. Ele deixou seu prestígio nos abraços calorosos com Dino. E para seus eleitores e admiradores ficou a vergonha dos afagos que são muito difíceis de explicar e muito mais ainda para defender.

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Por José Pires

A quarta-feira, 13, da aprovação de Flávio Dino e da desmoralização do Senado

A aprovação na CCJ do nome do ministro Flávio Dino para o STF revela a completa degeneração de mais esta tarefa constitucional do Senado. As sabatinas são inúteis, mesmo como referência do cumprimento das negociações de bastidores. Para garantir publicamente o apoio bastaria que dessem tiros para cima, apontassem o dedo do meio para os brasileiros, coisas assim. Ficaria muito claro que foi o acordo cumprido, sem ter que encenar uma sabatina.


O símbolo do terror e da desesperança ficou marcado pela lembrança fixada pelo cinema como a sexta-feira, 13. Ontem tivemos algo pior: a quarta-feira, 13. Não vai faltar nem a motosserra, que já vem decepando a liberdade de expressão, o direito à manifestação política e outras questões fundamentais de uma democracia e até mesmo do direito mais simples de viver sem que um togado resolva colocar alguém na cadeia com uma simples canetada só porque não gostou de ler algo nas redes sociais.


Já ficou cansativo raciocinar sobre o buraco em que o nosso Brasil foi enfiado, nessa enrascada histórica que teve seu ponto básico com a soltura de Lula da cadeia, praticamente uma anistia em que o STF teve que voltar atrás em uma decisão que já havia firmado e que é seguida em todos os países do mundo: a de que é na segunda instância que criminoso deve ser trancafiado. Por isso, vou dar um exemplo simples do estado a que chegamos: pense no respeito que você teria por um país em que o presidente, seguidamente em menos de seis meses colocou no Supremo primeiro um advogado pessoal e depois seu ministro da Justiça.


É difícil não ver com desagrado e até rir desse grotesco país imaginário, não é mesmo? Lembra uma Venezuela, uma Nicarágua ou uma dessas ditaduras africanas onde Lula costuma fazer suas empreitadas, só que num estilo bem brasileiro, na cordialidade do estamento burocrático costurado sem violência explícita. Nem se Raymundo Faoro ou Sérgio Buarque de Holanda fossem ficcionistas poderiam pensar que o enredo histórico chegaria a um ponto tão doloroso.


A dura realidade é que no exterior é desse modo que observam o nosso país. Dá até vergonha de ser brasileiro, mas a ressaca moral resulta também em prejuízo material, porque esta imagem é determinante para que investimentos venham de fora, sem os quais não haverá o conserto necessário em nossa economia. 


Fala-se bastante na intromissão dos poderes da República, um no outro, numa brigalhada que desestabiliza politicamente o país e faz desmoronar a confiança jurídica essencial para negócios de qualidade e o financiamentos fundamentais para a nossa economia. Pois o espetáculo desta quarta-feira mostrou que na verdade o que existe é apenas uma arrumação que envolve interesses deste ou daquele juiz ou político, com as articulações entre os Poderes baseadas especificamente em cargos e dinheiro.


O centro desse jogo de interesses é obviamente o STF, pelo que os onze podem oferecer como garantia da abertura o fechamento de grades de cela, se estendendo por todo o sistema jurídico do país ainda que tenha um comando firme neste poder mais acima. E tem também aqueles tais “contrapesos” de que falam tanto. Neste caso, o Executivo tem as verbas, cargos e o Legislativo atua com a chantagem de que os parlamentares podem cumprir suas obrigações, o que todo mundo sabe que não farão nunca, mas não deixa de ser uma moeda de troca que dá resultado.


Gilmar Mendes vem sendo explícito sobre como essas coisas acontecem. Escudado na confiança de um poder inatingível, há dois meses o ministro do STF disse em uma das viagens nababescas dos togados, desta vez em Paris, que muitos políticos, incluindo o presidente Lula, não estariam onde estão hoje se não fosse o STF. Ele já disse coisa parecida outras vezes, com um tom que é também de alerta, na precaução natural em um ambiente que entre uma diversidade de benefícios pode-se trombar com alguns riscos.


Claro que dessa maçaroca de interesses vem como consequência a desesperança quase total de que possamos ter um país com algo parecido com a normalidade, ao menos podendo viver e trabalhar com os requisitos básicos de uma sociedade como tantas que existem em outros lugares. Não se cultiva mais nenhuma utopia entre os brasileiros. Estamos atolados na anomia, na inexistência de leis e regras, quase aceitando que o que resta é aderir ao método de Copacabana, criando grupos de cidadãos para descer o porrete, como andam fazendo na ex-princesinha do mar.


A sabatina desta quarta-feira, 13, com a aclamação senatorial do ministro do Lula, de forma prática simboliza uma derrocada. A desmoralização é tanta que pode ser demonstrada mesmo em argumentações feitas nesta sessão, levantadas, ao menos em tese, como se fossem atitudes qualificadas. Eu poderia citar várias falas de bolsonaristas justificando a contrariedade à indicação de Dino, mas fiquemos num exemplo: tentando atacar a falta de lisura do Senado, o senador Flávio Bolsonaro revelou que ele mesmo poderia ter sido ministro da Justiça, mas declinou da honra. 


O cargo foi oferecido pelo pai dele, então na presidência da República, mas com seu conhecido caráter ilibado, Flávio recusou-se a participar dessa absurda jogada. E atentem para algo importante na exposição pública da imoralidade que seu pai lhe propôs. No juízo de valor do senador está em foco apenas sua suposta decência em negar a proposta. Não passou por sua cabeça que no autoelogio ele acusa mais uma vigarice de seu pai.

 

E quem pode duvidar que o Senado aprovaria a indicação do filho de Jair Bolsonaro? As evidências desta quarta-feira, 13, e de outros dias mostram que sim. E que ninguém duvide também de que o destino ainda reserva algo parecido, na transformação do STF em uma instituição familiar, pois no poço enlameado em que chafurdam os nossos políticos abrem-se muitos mais oportunidades de afundar cada vez mais este nosso pobre Brasil.

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Por José Pires