sexta-feira, 29 de abril de 2011

Delúbio de volta ao PT. E daí, vai encarar?

Delúbio Soares finalmente está de volta ao PT. Já não era sem tempo. Foi reintegrado nesta sexta-feira numa vitória que chamaríamos de acachapante: ele teve 60 votos a favor da anistia, 15 contrários e duas abstenções. "Anistia", é assim que chamam isso no PT. Espero que não paguem pensão para o danado, como fazem com tanta gente hoje. Sai sempre do nosso bolso, é claro.

A volta do companheiro Delúbio já era coisa certa. Hoje foi só a formalização, afinal o ex-tesoureiro é peça essencial na estrutura de poder de José Dirceu, Lula e a companheirada.

Não sei por que encrespam tanto com o pobre do Delúbio. Esses 15 que votaram contra sua reintegração, por exemplo, onde será que pensam que estão? Não acredito que lá dentro do partido não se saiba o que está escancarado para nós que somos de fora.

Teve até três petistas que falaram contra a volta. Partido democrático: três também defenderam o retorno do petista pródigo. Esses três últimos até entendo, mas os que se posicionaram contra estão lutando em vão e até com hipocrisia contra o destino. Qual seria o sentido de barrar Delúbio, se um José Dirceu, por exemplo, (e vamos ficar só com este senão o texto não acaba, já que a lista é longa) não só está dentro como também dita as regras do partido?

E não devemos esquecer que ele é o chefe, não é mesmo? Chefe do partido e "chefe da quadrilha", conforme está no inquérito do mensalão. E além de Dirceu, tem tantos outros companheiros metidos em tantas tretas e não só do mensalão. É de alto a baixo, como nunca se viu — e aí vale o chavão lulista — em nenhum partido nestipaís.

Pode parecer petulância deles, e é mesmo uma petulância, mas a volta do Delúbio parece ser inclusive um recado para o STF. Se o STF vai aceitar ou não, é outra história. Mas o simbolismo da volta é o de que a companheirada pergunta: "quem é que vai encarar?" Não à toa, o arquiteto maior da anistia petista foi o ex-capitão do Lula, um dos que mais se arriscam no julgamento do STF.

Todo petista devia receber o companheiro Delúbio de braços abertos, com tapete vermelho e tudo, sempre pensando também naquela famosa frase, a do "quem não errou que atire a primeira, e blá, blá, blá". Para entender isso no PT, basta olhar para o lado. Os 15 companheiros que não quiseram aceitar Delúbio estão com dificuldade para compreender a mudança do cenário político até dentro de seu partido, o que é uma bobagem e tanto tendo o companheiro José Dirceu do lado para explicar tudinho.
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POR José Pires

quinta-feira, 28 de abril de 2011

quarta-feira, 27 de abril de 2011

O senador da chacota

A foto ao lado está cada vez mais conhecida. É uma daquelas imagens que são um achado como significado da personalidade do retratado. A foto é de Albari Rosa, do jornal paranaense Gazeta do Povo. Vai acabar virando um logotipo do ex-governador e agora senador Roberto Requião se ele não tomar jeito. E Requião não é mesmo de tomar jeito.

Esta grosseria que ele cometeu nesses dias com um jornalista da Rádio Bandeirantes, de quem tomou o gravador por ter ficado zangado com uma pergunta, é café pequeno perto do que ele fez nos oito anos de seus dois mandatos, o segundo conquistado na gata, num segundo turno em que aprontou os diabos para chegar com apenas dez mil votos na frente do então senador Osmar Dias.

É sempre assim — na gata — que ele conquista suas vitórias políticas. Na eleição para o Senado quase perde a vaga. Durante a campanha ninguém mais o agüentava, tanto que levou uns tapas de um deputado federal quando destratou um grupo de pessoas e também tomou uns petelecos de um amigo do governador Orlando Pessuti. O motivo? Requião falava mal de Pessuti, que foi seu vice nos dois mandatos. Ficaram juntos por mais de oito anos e, no final, nem se falavam mais.

Dá até a impressão de que o eleitor paranense votou no Requião para que ele ficasse longe do estado. Mas antes dele seguir para Brasília, o Paraná teve que suportá-lo. Como fazer quando o mala, o espalha rodinhas é o próprio governador do estado? A população tem que agüentar o chato. É um dos males da democracia.

Os paranaenses viveram atormentados pelo governador nesses anos. Requião é esquentado, prepotente, autoritário, arrogante, inoportuno e, pior, também se acha engraçado. O Youtube está cheio de vídeos com suas mancadas. Uma das mais conhecidas é aquele da visita ao Lula, no Palácio do Planalto, quando ele enche a mão de sementes de mamona e manda pra boca, como se fosse um punhado de castanhas de caju ou amendoins.

Mas o Requião é chato não é de hoje. A amolação vem desde sua juventude, os amigos de então garantem. Vamos a um deles, Jamil Snege, um escritor de um estilo muito especial, além de ser engraçadíssimo, o que se vê pouco na literatura brasileira. Snege é um desses talentos maravilhosos que se perdeu na publicidade e na propaganda política, fato, aliás, nada raro em Curitiba, onde ele morou a vida inteira.

O escritor trabalhou como marqueteiro em várias campanhas políticas para o próprio Requião. Na última, para governador, Requião colocou no meio da propaganda política uma homenagem póstuma para o amigo Snege, que bem poderia ter morrido sem essa.

O escritor paranaense, portanto, conviveu bastante com Requião. Num ótimo livro seu, "Como se fiz por si mesmo", um tanto difícil de catalogar, mas que é bastante memorialístico, lá na página 173 Snege publica uma lembrança sobre o senador. Vou transcrever na integra:

"O que Roberto Requião fazia nos inícios de 70? Guerrilha, revolução armada, sublevação das massas? Porra nenhuma. Chegava em minha casa geralmente no sábado, com a mulher Maristela, sentava-se num sofá xadrez e até uma, duas da madrugada, entretinha a platéia com casos do mais irreverente e cáustico humor. Findo o repertório, escolhia uma vítima entre os presentes e torturava-a até a morte, a menos que alguém o interrompesse com um prato de spaghetti à matricciana."

Quando passou a mão no gravador do repórter, Requião estava se comportando de forma parecida com o que fazia nos inícios de 70, quando torrava o saco dos amigos na friorenta Curitiba. É o senador da chacota, do pouco caso com o respeito ao cargo. A diferença é que agora o país inteiro é que tem que suportar suas bizarrices.
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POR José Pires

terça-feira, 26 de abril de 2011

sexta-feira, 22 de abril de 2011

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Vem coisa, muito mais coisas por aí

Pelo que se vê, todas as maracutaias cometidas pelo PT nas eleições passadas, além do imenso gasto em dinheiro em todo o país e evidentemente na campanha-mãe da candidata Dilma Rousseff, tudo isso poderá ser visto como um chá de senhoras perto do que será a campanha do ano que vem.

Os sinais simbólicos do que vem por aí foram dados ontem na volta oficial de Lula à vida partidária. Ele recomeçou a atividade ao lado de mensaleiros. Não faltou nem o ex-capitão do seu time no Planalto, o deputado cassado José Dirceu, que responde no STF inclusive pelo crime de formação de quadrilha.

O jornal O Globo esteve no local do encontro, em Osasco, e flagrou o uso de carros oficiais no evento partidário. O prefeito de São Bernardo do Campo e ex-ministro de Lula, Luiz Marinho, era um que chegou em carro da prefeitura. Até estacionou na contramão.

Marinho respondeu com palavrões aos repórteres que questionaram o uso do carro da prefeitura e berrou até um estranho argumento. Vai na íntegra: "Quer que eu venha de bicicleta? Eu sou prefeito. Ando de carro oficial e com segurança. Ou você quer que eu seja morto como o Celso Daniel?"

Celso Daniel é o prefeito de Santo André, que foi morto em condições até hoje não esclarecidas, um crime que os maiorais petistas não querem ver de jeito nenhum aprofundado. E o que um assunto desses vem fazer na boca de um prefeito petista que sai xingando jornalistas que só pedem que ele explique o uso imoral do carro da prefeitura para fazer política partidária?

Pois é como eu disse: tudo indica que esse pessoal vai aprontar mais no ano que vem do que já aprontou até agora.
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POR José Pires

Crise que só tucano consegue aprontar

O pessoal do PSDB precisa explicar como é que se faz pra construir uma crise política dessas num partido que já teve por duas vezes a presidência da República e hoje tem vários governos em estados importantes, inclusive nos dois maiores colégios eleitorais do País, além de várias prefeituras pelo Brasil afora e que fez quase 50% dos votos na última eleição presidencial.

Claro que não é o tipo de lição para se seguir, mas seria bom ter um bom apanhado dos lances da construção dessa crise para usar como nos naqueles manuais do tipo "não faça isso". Poder ser útil até para o uso do prefeito Kassab em seu novo e exumado PSD, uma das peças essenciais na crise.

Quem sabe não sai da pena de Fernando Henrique Cardoso (Não se esqueça do povão, mô fio!) a análise dessa façanha tucana. Outro que poderia trazer pra gente a explicação de como dar facadas na própria cacunda, como os tucanos vem fazendo, é José Serra, que aliás escreve bem.

Isso, o Serra pode elucidar para os brasileiros este drama tão bem composto, ele que está se fazendo de Zé também nesse quiproquó partidário. Aí a gente poderia ficar sabendo inclusive se afinal ele ganha ou perde com essa crise tão bem tramada.
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POR José Pires

Joilson e Aécio Neves, dois motoristas em testes no Rio

Vem num bom momento a história do motorista carioca Joilson Chagas, que devolveu um pacote com R$ 74.800, esquecido por um passageiro no ônibus que ele dirigia. Na situação escandalosa em que está o Brasil no plano ético, gestos como o de Joilson são como uma salvação moral para os que procuram levar a vida com honestidade em meio a salafrários que roubam privilégios e se impõem socialmente com a impunidade assegurada por todos os poderes.

A situação vivida pelo motorista foi como um teste para o seu caráter. Assim como existem as tais “pegadinhas” de programas de televisão, parece que o destino criou uma “pegadinha” para ele. E que teste, não? Um bolo de setenta mil reais tem o potencial para desmontar qualquer teoria ética. Mas, apesar de não ser nenhum Weber, Joilson enfrentou de forma admirável o acontecimento, o que dá orgulho até para os que estão bem longe do fato, que somos nós todos.

Nesta época braba em que vivemos é um alívio que apareça gente como o Joilson mostrando de forma prática que nem tudo está perdido.

Precisamos muito de pessoas que mostrem que a desonestidade não impera. Gestos como o deste motorista de ônibus quebram a desesperança criada pela corrupção, uma desilusão que vem especialmente dos políticos e que mina o vigor necessário para enfrentar os problemas brasileiros e até para levar a vida, que não está nada fácil para quem vive de fato de seu próprio trabalho.

Nos mesmos dias em que Joilson enfrentou com todo o mérito sua “pegadinha” da vida, também no Rio de Janeiro o destino colocou em teste outro motorista — este até com responsabilidades que vão muito além da direção de um carro. Foi o ex-governador e atual senador Aécio Neves, que saiu muito mal no teste. Aécio foi parado por policiais trabalhando no respeito à Lei Seca, que combate o uso da bebida alcoólica por motoristas. A Lei Seca é uma lei votada por parlamentares e o mínimo que se pede é que um político respeite as leis votadas por eles mesmos.

Pois o senador estava com a carteira de habilitação vencida e se negou ao teste do bafômetro, o que é praticamente uma presunção de culpa. Aécio foi parado às três da manhã e vinha de uma festa com amigos o que, com sua fama de bom vivant, não faz crer que ele não tenha tomado um gole.

Porém, mesmo deixando pra lá o suposto alcoolismo ao volante, a situação do político mineiro não melhora. Ele estava com a carteira vencida e demonstrou surpresa com isso, o que revela como parte da classe política no Brasil vive uma vida que parece encerrada em um círculo de nobres.

Talvez seja por isso também que o ex-presidente Lula tenha pedido que o senador José Sarney não fosse “tratado como uma pessoa comum”, em razão das denúncias de corrupção no cargo de presidente do Senado.

Boa parte dos políticos brasileiros são como príncipes, que não se ocupam com afazeres de “pessoas comuns”, como a preocupação com a validade da carteira de habilitação.

Nessa relação com as “pegadinhas” de televisão, seria interessante se fosse possível inverter o destino dos dois motoristas que passaram por momentos muito especiais em suas vidas no Rio de Janeiro.

Que o motorista Joilson fosse parado por uma blitz de trânsito e o motorista Aécio encontrasse um pacotaço de mais de setenta mil reais em dinheiro.

É improvável que Joilson esteja com a carteira vencida e também é muito difícil acreditar que ele se recusaria a passar por um teste no bafômetro. Já o senador Aécio Neves dando de cara com um pacotaço de dinheiro talvez não virasse notícia nacional.
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POR José Pires

terça-feira, 19 de abril de 2011

Herança da bravata: Brasil perde privilégios de economia emergente

Os petistas gostam bastante de usar a expressão "herança maldita", que serve muito bem para a fuga de suas responsabilidades, pois o Estadão de hoje traz uma matéria sobre uma herança bem maldita, mas desta vez com certeza criada por eles.

Pode ser chamada de herança da bravata. É o resultado da política internacional bravateira do Lula. O Brasil começa a perder privilégios de economia emergente. Em maio a União Européia já começa a suprimir os benefícios concedidos ao nosso país, mas logo americanos e japoneses farão o mesmo.

Na Europa, o primeiro efeito será a suspensão de preferências tarifárias para mais de 12% das exportações brasileiras. Na Organização Mundial do Comércio (OMC) também já existe a intenção de deixar de tratar o País como emergente.

O governo americano já fala em "mudança de atitude" da parte do Brasil para que o país feche acordos comerciais. Os americanos querem a aliminação de tarifas de importação para milhares de proodutos brasileiros.

As argumentações dos estrangeiros sobre a mudança de categoria econômica são daquele tipo de fazer o Lula estufar o peito nos palanques. Nenhuma autoridade econômica da Europa ou dos Estados Unidos ainda citou diretamente o bravateiro, mas não me espantaria se logo ouvíssemos o seguinte: "Andou passando por aqui um barbudinho gordinho que dizia que o Brasil é o máximo, quinta economia do mundo, esse tipo de coisa, e até exigiu assento no Conselho de Segurança da ONU. Pois então está na hora de vocês pagarem por isso".
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POR José Pires

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Dando um ganho

O presidente do TSE, Ricardo Lewandowski, disse que o plebiscito sobre armas custaria R$ 300 milhões. Está aí mais uma comprovação de que o desarmamento não é a solução para a insegurança. Vai ser um assalto ao bolso do contribuinte. E sem usar arma nenhuma.
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POR José Pires

segunda-feira, 11 de abril de 2011

O gato nuclear do Japão caindo do telhado

Desde o início da crise nuclear do Japão venho afirmando que o governo japonês esconde o que de fato vem acontecendo dentro da central nuclear de Fukushima. Usei a velha imagem do gato que subiu no telhado para mostrar minha desconfiança com as notícias oficiais sobre o acidente nuclear. Pois parece que o gato caiu do telhado.

Hoje o governo japonês admitiu que o desastre nuclear está no nível sete, que é o máximo da escala de acidentes nucleares INES, que vai de 0 a 7. Fukushima está no nível da tragédia nuclear de Chernobyl, ocorrido há 25 anos na Ucrânia e que é o único acidente no mundo que atingiu esse nível de gravidade.

Até agora o governo mantinha o nível 5. Desde 15 de março a agência de segurança nuclear da França afirmava que para eles o nível era 6. O Japão se fechava no seu tatemae, o traço psicológico de um povo que terminou virando uma arma política de autoridades inescrupulosas e que acabou em um desastre que não se sabe onde vai parar. Se é que vai parar um dia. Depois escreverei mais sobre isso.

Também no dia 15 de março eu escrevia aqui que o acidente estava próximo de uma tragédia nuclear que poderia abalar o Japão e mudar de vez a opinião mundial sobre o uso da energia atômica. O lobby nuclear se defende bem e tem bastante dinheiro para tanto. Mas vai ter dificuldades de sair bem dessa tragédia no Japão.

Naquele dia 15 o comissário europeu de Energia, Günther Oettinger, definia de forma assustadora o que podia estar ocorrendo no Japão. "Se foi falado em apocalipse", ele dizia "na minha opinião é uma palavra muito bem escolhida".

Agora é esperar para ver como vai ser enfrentado este "apocalipse". O governo japonês podia começar deixando de usar a dissimulação para fugir da confrontação com a opinião pública e passar a enfrentar a tragédia de uma forma que nunca fez em seu programa nuclear: com transparência.
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POR José Pires

Fukushima está igual Chernobyl, já no brasil no hay problema

O Peru optando pelos piores

Antes que ficasse oficializado o desastre eleitoral no Peru, com Ollanta Humala e Keiko Fujimori no segundo turno das eleições para presidente, o escritor Mario Vargas Llosa dizia que escolher entre os dois numa eleição equivaleria a optar entre a AIDS e o câncer.

A imagem pode parecer forte, mas depois de uma avaliação do que representam as duas opções que o eleitor peruano tem para colocar na cadeira de presidente, pode-se até chegar à conclusão de que o Prêmio Nobel de Literatura não está fazendo nenhuma comparação fantástica. É puro realismo.

Não é raro que o segundo turno acabe exigindo do eleitor o exercício do chamado voto útil, mas os peruanos vão ter dificuldade para encontrar algo de útil nesse confronto.

Ollanta Humala é um político da velha tradição caudilhesca da América Latina. Não à toa, seu ídolo máximo tem sido o presidente venezuelano Hugo Chávez. Nesta eleição, para fugir da alta rejeição que Chávez tem no Peru e se aproximar da imagem de Lula, que é mais bem avaliado entre os peruanos, Humala tem afirmado que na presidência seguirá o modelo lulista.

Para evitar perder o eleitorado conservador o candidato também passou a campanha gritando em comícios que é contra o aborto. Ou seja, é outro que faz qualquer coisa para ganhar uma eleição. E não estou fazendo crítica indireta para este ou aquele candidato brasileiro, até porque no Brasil tanto José Serra quanto Dilma Rousseff fizeram este papelão.

Já Keiko Fujimori é uma candidata que se conhece bem pelo sobrenome. Sua história política tem muito de patético. Keiko passou a ser conhecida depois que foi escolhida pelo pai, Alberto Fujimori, para ser a primeira-dama quando ele foi eleito presidente do Peru. Fujimori estava separado da mãe de Keiko.

Atualmente Fujimori está preso por corrupção e crimes contra a humanidade. E a história de filha só não é engraçada porque também é cercada de corrupção e crimes. Ela deve em boa parte a ida para o segundo turno à herança política do pai criminoso, um modelo que ela pretende reeditar se for eleita. Até os estudos de Keiko em Boston, nos Estados Unidos, teriam sido pagos com dinheiro público.

Vi uma entrevista sua a um canal de televisão peruano. Quando o apresentador pergunta sobre sua experiência prática na política, ela cita projetos assistencialistas do tempo em que foi primeira-dama do próprio pai. E a gente ainda reclama do nosso poste, não é mesmo?

De um lado, um caudilho parceiro do venezuelano Chávez e inimigo da liberdade de expressão. Do outro, uma herdeira literal do fujimorismo, cuja vitória, segundo Vargas Llosa, significaria abrir as cadeias para todos os ladrões, assassinos e torturadores, começando por seu pai, Alberto Fujimori.

O caminho escolhido pelos peruanos é ainda mais pesaroso pelo fato de só agora o país estar se recuperando de outra má-escolha histórica feita em 1990, quando Alberto Fujimori foi eleito presidente. E na época, o eleitor peruano tinha Vargas Llosa como opção para presidente. Bem, está aí mais um país que não aprende com os próprios erros.

Ainda falando sobre o resultado eleitoral de hoje, na mesma entrevista em que expressava o temor de que os peruanos acabassem tendo que optar entre a AIDS e o câncer Vargas Llosa falou também sobre o qual pode ser o desfecho de uma situação dessas.

Fazendo menção a uma frase de Conversa na Catedral, um romance seu muito conhecido, o escritor disse o que pode acontecer com seu país. Vai em espanhol mesmo, pois dá para entender muito bem: “Hay la posibilidad de que ahora se joda bien”.
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POR José Pires

União Africana tenta salvar o "amigo, irmão e líder" Kadhafi

A União Africana mostrou logo de forma prática para o que serve: linha de auxílio de ditadores. Não que houvesse razões para acreditar em outra serventia para esse ajuntamento de ditadores africanos.

Uma delegação foi enviada à Líbia para negociar um cessar fogo com Muammar Kadhafi e trouxe a notícia de que o ditador líbio aceitou um plano proposto para acabar com o conflito no país.

Não existe nenhum documento consistente sobre a proposta da União Africana, o que também não surpreende. Isso está mais para missão de salvamento do que para missão diplomática. O acordo proposto é uma evidente maquinação para tentar livrar Kadhafi de um destino que já parece selado: ele tem que sair do poder.

O problema político é que se Kadhafi não sair do poder, então o egípcio Hosni Mubarak e outros ditadores da região podem muito bem voltar.

Um dos membros da União Africana, o presidente da África do Sul, Jacob Zuma, só teve palavras carinhosas para o ditador líbio. "Eu tenho um compromisso que me obriga a sair do país, mas nós terminamos completamente nossa missão com o líder irmão (Kadhafi)", disse Zuma a jornalistas.

Já ouvimos antes esse negócio de chamar Kadhafi de "irmão". O que será que o ditador líbio dá para essa gente? O ex-presidente Lula também tinha esse jeito de falar com o Kadhafi. Lula foi ainda mais afetuoso. Chamou o ditador de "amigo, irmão e líder".

Agora ele está tentando desdizer sua declaração afetuosa, mas isso é bem difícil, pois sua fala está relacionada com atitudes práticas muito simpáticas à Kadhafi. Para começar, recebeu a medalha Al Fateh, a mais alta condecoração do regime líbio. Já perguntei aqui se Lula vai expor a medalha na sua fundação junto aos badulaques que juntou quando era presidente. Não pode é sumir com ela, afinal é um pedacinho importante da sua história.

Mas o abandono do Lula é normal. Segue o roteiro de sempre, o de largar companheiros que caem em desgraça. Mas que Lula está fazendo falta na Líbia, isso está. O mundo anda com saudades daquela revolucionária estratégia lulo-petista de relações internacionais que durou tão pouco: a política do olho no olho.
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POR José Pires

sábado, 9 de abril de 2011

As sandices que Lula quer deixar pra trás

Que Muammar Kadhafi já está com o seu destino selado é muito óbvio. Porém, se alguém ainda tivesse alguma dúvida, logo se convenceria da desgraça do ditador líbio ao saber que o ex-presidente Lula já está renegando o velho amigo do peito.

Lula até perdeu a compostura quando a jornalista Denise Chrispin Marin, correspondente do Estadão em Washington, chamou a sua atenção para a fraterna amizade que sempre teve com Kadhafi. Lula estava bravateando sobre sua disposição para mediar o conflito na Líbia quando a jornalista lembrou que em dezembro de 2003, em visita oficial à Líbia, ele se referiu ao ditador como "companheiro e amigo".

Lula se irritou com a questão e disse para a jornalista: "Não fale uma sandice dessas. Conheço as pessoas e sei como me referi a elas”. Lembra bastante o velho Lula que em 2004 quis expulsar do país o correspondente do New York Times, Larry Rother. E o jornalista americano Rother nem havia publicado uma grande revelação sobre o governo petista. Ele apenas escreveu em um artigo que Lula bebia demais.

Na resposta à jornalista do Estadão, Lula ainda completou com uma afirmação clara de que Kadhafi é mais um amigo largado no caminho: "Eu jamais falaria isso por uma razão muito simples: porque eu tenho discordância política e ideológica".

A notória memória seletiva do Supremo Apedeuta continua tinindo. Ele só lembra o que interessa no momento e descarta até amigos próximos quando lhe convém. Kadhafi não deve se deixar abater. Há uma longa fileira de amigos que seu amigo Lula deixou pra trás.

Nada comove seu coração, nem situações trágicas, como a tortura e assassinato de gente próxima. A família do ex-prefeito de Santo André, Celso Daniel, pelejou para que ele ajudasse no desvendamento da morte do amigo que era para ser seu braço-direito no governo, mas botou ele uma pá de cal sobre o assunto.

Lula também deixou para trás o ex-prefeito Toninho do PT, morto a tiros em Campinas, em setembro de 2001, quando era prefeito da cidade. Neste caso, Lula se negou a atender até aos apelos da viúva de Toninho do PT para que o crime fosse investigado com mais profundidade.

Portanto, o ditador da Líbia não é o primeiro e nem será o último chegado que Lula. E isso porque há cerca de um ano e meio, ele foi bem mais afetivo com o ditador líbio do que na situação anterior lembrada pela jornalista do Estadão.

Escrevi sobre isso aqui. Lula esteve novamente na Líbia e é possível ver nas fotos o encantamento de Lula pela figura do ditador. Mas não podemos esquecer que então Kadhafi parecia tão poderoso que ninguém conseguiu prever que em menos de dois anos ele estaria na situação periclitante de agora.

No encontro da Cúpula da União Africana, em julho de 2009, Lula chamou Kadhafi de "irmão, amigo e líder". Cercado de ditadores africanos, inclusive do anfitrião do encontro, que aconteceu na Líbia, Lula esteve presente como convidado de honra.

Na visita anterior, de 2003, o petista recebeu também a condecoração Al Fateh, a mais importante do governo líbio. O nome é uma homenagem ao movimento que levou Kadhafi ao poder em 1969. Seria interessante saber o que Lula pretende fazer agora com esta alta condecoração que sofre uma baixa histórica das mais pesadas. Não é material que Lula vá expor na sua fundação. A não ser que ele quisesse contar sua história de forma verdadeira. Mas isso ele já disse que acha uma sandice.
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POR José Pires

sexta-feira, 8 de abril de 2011

As chacinas do bom senso

A chacina na escola do Rio de Janeiro é um horror. Isso é um fato. Mas é bom lembrar que neste exato momento muitas crianças estão sendo feridas ou mortas neste país de 50 mil homicídios por ano. É um drama que raramente chega às manchetes, mas é persistente, um horror do dia-a-dia com inocentes sofrendo violência pelas mãos de bandidos, de milícias formadas por bandos paramilitares e também pela ação da polícia, em torturas e assassinatos cometidos às escondidas.

Por isso, quem não sofre de perto a dor vivida na escola do Rio onde aconteceu o ataque de Wellington Menezes de Oliveira deveria ter a consciência de não usar um acontecimento tão brutal para alavancar seus interesses.

Sempre que ocorre uma grande violência no Brasil, logo surgem os trucidadores do bom senso. Demagogos já puxam das gavetas campanhas que pouco ou nada têm a ver com esta matança. A volta da campanha pelo desarmamento é de um oportunismo que se destaca, mas tem muito mais. Já surgem até propostas de instalação de detectores de metais nas portas das escolas. Os vendedores desse tipo de equipamentos devem estar babando de contentamento e sempre vai ter um vereador disposto a fazer disso uma lei.

Foi também a pretexto de maior segurança que o Brasil foi tomado por câmeras de vídeo. E cada vez que ocorre um crime na frente de uma dessas maravilhas a gente vê que sua serventia não vai muito mais além do que encher o bolso de empresários do ramo.

Se dependesse das câmeras de segurança da escola onde ocorreu a chacina, não seria possível nem a identificação do assassino. As imagens não servem nem para aumentar a audiências das televisões. NO entanto, gasta-se com ilusões como esta um dinheiro que a Educação não tem para usos básicos.

Dá pra entender as lágrimas da presidente Dilma Rousseff. A tragédia emociona mesmo. Mas é de estranhar que tenha havido menos emoção com as mais de mil mortes na tragédia de Teresópolis. Muitos “brasileirinhos” morreram ali também. E Dilma deu apenas uma passada rápida por lá, antes de ir para a capital carioca posar segurando uma camisa do fluminense junto ao sorridente governador Sérgio Cabral.

O governo petista já tinha planos de voltar com o papo do desarmamento, mas a chacina acelerou a colocação em prática do projeto. O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, disse hoje que uma nova campanha pelo desarmamento será lançada.

Este é um governo muito estranho, de um governo idem. Já se foram cem dias do primeiro ano do governo Dilma, que pode ser computado como o nono ano do PT no poder e o que sai do Ministério da Justiça é a volta da ladainha do recolhimento de armas.

Não há nenhum plano consistente de ataque da violência cotidiana que sofrem todos os brasileiros e que já toma até cidades menores e antes pacatas. Nenhuma medida contra as torturas e maus tratos nas prisões brasileiras, já comparadas por especialistas com a Idade Média, o que eu acho uma tremenda injustiça com a Idade Média. Também não se faz nada contra a violência policial contra os cidadãos e o domínio das milícias em parcelas cada vez maiores das nossas cidades, domínio paramilitar mantido com a conivência e muitas vezes até parceria da nossa polícia.

Em política fala-se muito do tal de fazer o “dever de casa”. No Ministério da Justiça isso não foi feito em nove anos de PT no poder. E o ministro Cardozo nem pode alegar que não teve tempo para se inteirar dos assuntos da pasta, já que foi deputado por mais de uma década antes de pegar o cargo.


Dever de casa é com o Departamento de Estado dos EUA
Mas se é por falta de tempo, o ministro podia começar com os problemas levantados pelo relatório do governo dos Estados Unidos sobre as violações de direitos humanos no Brasil. Foi divulgado hoje e grande parte do serviço por fazer está lá. É seu dever de casa.

O governo americano fala em violência por parte da polícia, falhas no julgamento de policiais corruptos e na proteção de testemunhas, tortura de detentos, condições "deploráveis" de prisões, discriminação contra mulheres, tráfico de pessoas, trabalho escravo e infantil e maus tratos de crianças.

O relatório cita vários casos de torturas feitas por policiais e obviamente descreve apenas os documentados, mas o ministro tem o conhecimento de como essas coisas são pouco documentadas por aqui. E também são cada vez menos denunciadas, pois o brasileiro sabe que raramente ocorre qualquer punição e que testemunhas e denunciantes terminam sempre indefesos.

E tem mais. Segundo os americanos, os violadores de direitos humanos no Brasil "gozam com freqüência de impunidade", com uma manifesta "relutância e ineficiência em processar funcionários do governo por corrupção, discriminação contra indígenas, mulheres e violência contra crianças, incluindo o abuso sexual".

É uma leitura boa para um final-de-semana. E na segunda-feira o trabalho pode começar com tudo. Se o ministro ainda não viu o relatório, está aqui.

O relatório do Departamento de Estado não fala da corrupção política. Não é seu tema. Mas isso não fará falta ao ministro, que até deixou de disputar a reeleição para deputado alegando que discordava completamente da forma que a política estava sendo feita no país.

O relatório tem como uma de suas fontes a Anistia Internacional, entidade que dispõe também de farto material de leitura para o nosso ministro. Enfim, serviço é o que não falta para o Ministério da Justiça. Nem é preciso usar a morte de crianças para trazer novamente temas superficiais sobre a violência no Brasil.

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POR José Pires

Tarefa maior

Com a matança das crianças dentro da escola no Rio de Janeiro, fala-se bastante como fazer das nossas escolas um lugar mais seguro para as nossas crianças. Na verdade a tarefa é tornar o entorno das escolas um lugar mais seguro. E esta área ao redor de onde estudam nossas crianças vai das fronteiras com a maioria dos países sul-americanos até o oceano Atlântico.
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POR José Pires

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Dilma dá carona em avião. E também disso ela de nada sabia

Durante a visita do presidente Barack Obama ao Brasil, vários ministros reclamaram do rigor da segurança americana. As autoridades brasileiras tomaram geral dos gringos. Além de todos serem revistados, foram escoltados pelos seguranças americanos até o local do evento com a presença de Obama.

Este falso orgulho dos nossos políticos não causa surpresa. Ninguém fica surpreso também que nenhuma deles vá além da queixa ao jornalista que está ao lado. Escrevendo sobre o assunto aqui, destaquei que isso mostrava que os americanos deviam saber muito bem com quem estavam lidando. Concordando que "não há outro jeito, senão revistar essa gente", comentei também no post que certamente os americanos conhecem bem o modo como se formam os governos no Brasil e, por isso mesmo, sabem que controle aqui é zero.

Pois hoje se noticia que andaram pegando carona no avião da Presidência da República sem o conhecimento da presidente Dilma Rousseff.

A notícia é do Estadão: “O comandante do avião da Presidência da República, coronel Geraldo Corrêa de Lyra Júnior, infiltrou uma amiga nos vôos de ida e volta que levaram Dilma Rousseff para descansar em Natal (RN) no carnaval. O episódio abriu uma crise no Gabinete de Segurança Institucional (GSI), responsável pela segurança da presidente. O coronel botou no avião presidencial a professora de educação física Amanda Correa Patriarca, irmã de Angélica Patriarca, comissária da mesma aeronave”.

A situação é bem grave. O coronel Lyra Júnior comanda também a base aérea de Brasília. A passageira convidada do coronel viajou com Dilma, sem que a presidente soubesse de nada. Foi passar o Carnaval em Natal, onde ficou quatro dias.

Mas tem coisa pior ainda neste caso. O deslize cometido pelo comandante da Base Aérea de Brasília e do avião em que viajava a presidente da República só acabou sendo revelado porque funcionários contrariados com sua atitude despacharam a mala da oitava passageira diretamente para o gabinete da presidente da República, para que o caso fosse descoberto pelos assessores próximos à Dilma.

E se governo tomar alguma decisão neste assunto, será só porque a imprensa foi atrás da grave falha. No Brasil atualmente é assim: só a imprensa é que busca conferir como anda a administração pública. Nossos políticos sempre estão ocupados demais com outros assuntos. Atualmente a pauta é o bate-boca entre o deputado Bolsonaro e a Preta Gil.

Mas a repercussão do caso do coronel que deu carona à amiga no avião presidencial deve afetar não só a segurança da presidente brasileira. Nessa hora a informação sobre a facilidade de entrar em um avião presidencial no Brasil já deve ter caído em mesa muito mais importante que a da Dilma.

Além de comandar a Base Aérea de Brasília e o avião presidencial, o coronel Geraldo Corrêa de Lyra Júnior foi quem recebeu o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, na base aérea de Brasília.
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POR José Pires

quarta-feira, 6 de abril de 2011

Bolsonaro: assunto para fugir de outros assuntos

É espantosa a quantidade de heróis que surgiram na enxurrada de absurdos que vieram com o episódio do bate-boca entre o deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ) e a cantora Preta Gil no programa CQC.

O episódio tem servido muito bem para os petistas fugirem do assunto político que realmente importa no momento, que é o reforço do caso do mensalão do PT trazido pelo relatório da Polícia Federal. Já estava claro o risco que o mensalão trouxe para a democracia brasileira, mas este relatório final revelado pela revista Época destrói de vez lorotas como a de Lula ou de seu ex-capitão, o deputado cassado José Dirceu, que anunciaram juntos que o mensalão seria uma farsa.

É óbvio que já foi definida em alguma reunião de chefes petistas a tática de esquentar o assunto do CQC. O petista que ocupa o cargo de presidente da Câmara dos Deputados tem usado bastante essa via de escape. Marco Maia, este o nome do deputado gaúcho que até então era um desconhecido, deveria estar ocupado com colegas como o deputado Vicentinho, um dos acusados no relatório da PF, ou com outros petistas mensaleiros que estão se dando bem no Congresso. Mas não. Maia agora só fala no caso Bolsonaro, em homofobia e racismo.

O deputado cassado José Dirceu é outro que não pensa em outra coisa. Seu assunto é o Bolsonaro. É uma pena, pois como chefe da quadrilha do mensalão, como é descrito no inquérito do mensalão que está no STF, Dirceu tem muito mais a ver com o mensalão do que com o Bolsonaro ou a Preta Gil.

O deputado Bolsonaro já falou coisas muito piores do que as bobagens que soltou no CQC. Deveriam ter se ocupado há mais tempo dele quando suas falas estimulavam a violência, como aconteceu em várias entrevistas. Mas o momento agora é bem mais apropriado, não é mesmo? Mas é bom lembrar que, ao que se sabe, Bolsonaro ainda não se meteu em maracutaias com dinheiro público, como é o caso de tantos colegas de Maia, inclusive o ex-capitão do Lula. Por então o presidente da Câmara não cuida disso?

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POR José Pires

Até as cotas raciais no meio da fofoca

Na discussão pública que veio depois do qüiproquó na TV entre o deputado Bolsonaro e a Preta Gil o assunto é desviado também para o interesse de grupos de lobbies que se aproveitam da questão racial e também do homossexualismo.

A militância de movimentos negros alinhados ao governo está adorando o caso. E um episódio que é basicamente de fofocagem é colocado de forma artificial até no centro da discussão das cotas raciais. O debate sobre as cotas raciais deveria se concentrar em algo mais profundo que discutir se o piloto do avião foi aprovado pelo sistema de cotas, mas quem é que vai perder tempo aprofundando o tema com o Bolsonaro facilitando dessa forma a manipulação do debate?

Acompanho bem esta discussão e vejo que os que são contra as cotas raciais apresentam argumentação consistente, enquanto os defensores da cota procuram dar ao debate um clima emocional. Os adeptos das cotas estão também o tempo todo tentando demonizar os adversários. Já vi até argumentações absurdas falando de um “apartheid” nesta questão. Um tal de “privilégios dos brancos” já foi aventado como um dos demônios contrários aos direitos dos negros. Na verborragia absurda desses movimentos apareceu até uma “elite branca” no país. Vou falar mais dessas coisas depois.

Nada melhor que um Bolsonaro para uma militância grudada em cargos no governo federal e também nos estados e municípios ou em favores diversos. Colocar uma figura execrável como Bolsonaro entre os que são contra as cotas raciais facilita muito as coisas. É a figura ideal para que se cole o rótulo de racista aos que buscam esclarecer este sistema.

E eles sabem que Bolsonaro não tem nada a ver com esse assunto, mesmo agora com essa novidade de ter um cunhado negro. Mas quando é que vai aparecer outra chance dessas para eles tacharem de racistas os adversários?

Mas tem mais gente tirando sua casquinha, sem nenhuma diferença de cor. Branquelos e negrões, todo mundo quer um ganho. O pessoal do CQC está estourando de satisfação com o caso. Marcelo Tas até protagonizou um momento-verdade nessa semana, com a revelação de que sua filha é gay.

No país da piada pronta, nada como um momento-verdade num programa de humor. Só faltou uma música de fazer rolar lágrimas no fundo quando Tas contou aos telespectadores sobre sua filha.

Bem, mas se está aumentando a audiência do programa, então está valendo à pena. A propagação do vídeo na internet foi grande, o que garante um bom reforço na marca do programa. Daí para o selinho na Hebe é um pulo.

O momento-verdade pode servir também para buscar credibilidade para um programa que tem como base o constrangimento alheio e que ajuda a disseminar uma rede de fofocas sobre políticos, artistas e outras personalidades.

Nesta história o CQC como paladino da luta contra o preconceito é a única piada que conta. O que o programa mais faz é alimenta preconceitos. Além das situações agressivas que criam para as vítimas que caçam em festas, shows, lançamentos ou qualquer outra atividade que junte nomes famosos. A receita é irritar as pessoas até que elas tomem atitudes insensatas que sirvam para o programa fazer sucesso.

Recentemente o CQC fez humor atiçando a suposta rivalidade entre brasileiros e argentinos. Fizeram uma ligação com a visita de Barack Obama ao Brasil quando, segundo a peça de “humor”, Marcelo Tass teria recebido uma caixa do presidente americano. Quando apertam um botão na caixa surge uma jornalista apresentando um noticiário extra informando que aquilo havia disparado um míssil sobre Buenos Aires.

Se isso não é estimular preconceito, então não existem mais limites sobre a responsabilidade de quem usa um meio de comunicação tão influente. Quem é sério não trabalha sobre esses mitos de rivalidade coletiva. E, além disso, nem é engraçado. Assim como não é engraçado um bate-boca entre um deputado e uma cantora. E tem tanta gente assim que acha bacana ficar vendo pessoas sofrendo constrangimento?

Nem tanto. Com Bolsonaro ou sem Bolsonaro, o CQC fica sempre pela média de cinco pontos em São Paulo. No resto do país a TV Bandeirantes tem menos audiência ainda.

Com a tentativa de fazer graça, o CQC também fez desmoronar a credibilidade do jornalismo da emissora, que aceitou colocar um material no ar igualzinho às edições extras de sua programação jornalística.

É claro que não vou situar a má-qualidade da TV Bandeirantes apenas no que o CQC tem feito. Seria desmerecer o esforço de anos da direção dessa rede de emissoras para oferecer porcarias para seus telespectadores. Mas fazer piada com seu próprio jornalismo é um sinal de que também lá dentro não levam a emissora a sério.

É muito moderninho e faz bem para a fama de Marcelo Tas aparecer revelando ter uma filha lésbica. Também pode parecer que um gesto desses cria tremendos avanços sociais, mas a verdade é que o conjunto do programa que ele dirige é bem retrógrado, apesar de ter um verniz supostamente iconoclasta. Basicamente é a exploração do constrangimento alheio.

É uma ética bem estranha e tremendamente particular essa de ter um programa que no grosso busca audiência em cima do constrangimento e expondo as pessoas em bate-bocas grosseiros, mas que de vez em quando se dá ares de tribuna dos direitos civis.

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POR José Pires

O ex-BBB que virou deputado aumenta seus quinze minutos de fama

Outro político que apareceu para faturar com o enrosco em que o Bolsonaro se meteu foi o deputado Jean Wyllys. Não me lembrava dele, mas ele também nunca fez algo que mereça estar na memória.

Wyllys ganhou fama quando levou o prêmio de 1 milhão de reais no Big Brother Brasil. Naquele programa, o agora deputado se destacou usando sua condição homossexual. Os outros não tinha esse diferencial e foram dançando a cada programa, até o final em que Wyllys faturou o grande prêmio.

Não vou entrar no mérito sobre as atitudes do deputado no BBB e nem vou discutir o que aquilo significou para os direitos civis, mas o fato é que nada disso faria elevar o programa BBB do nível cultural de sarjeta em que ele sempre esteve. Aliás, uma sarjeta altamente lucrativa.

Jean Wyllys virou deputado só por conta do critério de proporcionalidade dos votos. Ele é deputado foi eleito pelo Psol do Rio de Janeiro, onde a sigla está nas mãos de Chico Alencar, que teve uma grande votação para deputado federal que acabou levando também Wyllys para a Câmara.

Alencar é um desse caciques de extrema-esquerda que tem o controle de um partideco, com isso conseguindo bastante um espaço praticamente exclusivo para trabalhar sua imagem. Em cada estado o Psol tem um dono. No Rio, o partido teve como atividades marcantes recentes a participação na campanha para que o italiano Cesare Battisti fique livre no Brasil e a manifestação contra Barack Obama, quando teve militantes presos.

A candidatura de Wyllys no Psol nasceu do mesmo jeito de tantas outras nos vários partidos picaretas que temos. O Psol segue seu rumo sem organicidade alguma, em linha parecida com a desses outros partidos. Daí a força de seus caciques de extrema-esquerda. Wyllys nunca teve vida partidária. Virou candidato a partir de um convite da ex-senadora Heloísa Helena, que tentou ser eleita por Alagoas. Ele até tem a chance de fazer algo que preste na Câmara, mas sua entrada na política não tem diferença com a de um Tiririca.

O que o Psol viu em Wyllys foi naturalmente a possibilidade do partido ter lucros eleitorais com sua fama, mas nem isso acabou acontecendo. Não dá para dizer nem que a votação de Jean Wyllys seja representativa de qualquer grupo social, nem sequer dos homossexuais. Sua pequena votação (foi o último entre os deputados eleitos pelo Rio, com 13.018 votos) seria pouco representativa até em colégios eleitorais menores que o do Rio, o terceiro colégio eleitoral do país, atrás apenas de São Paulo e Minas Gerais.

No entanto, ele tenta fixar em seu mandato um tom de luta pelos direitos dos homossexuais. Um pouco antes da treta entre Bolsonaro e Preta Gil vi o deputado Wyllys numa notícia em que ele se dizia ameaçado por causa de sua militância homossexual. Até me interessei pelo assunto, mas o que ele apresentava como provas eram e-mails com palavras ofensivas contra ele. Ora, como quem exerce uma atividade pública está sempre sujeito a isso, o deputado deveria ter buscado esclarecer o assunto de maneira discreta antes de vir a público dando esse tom de conspiração contra os direitos civis. Mas dessa forma mais equilibrada o deputado certamente não sairia na imprensa.

Com o caso Bolsonaro, seus quinze minutos de fama ganharam um bom acréscimo. Agora, na polêmica em torno do deputado Bolsonaro ele tem conquistado um espaço bom na cobertura caótica que a imprensa tem feito. Deu inclusive uma entrevista no programa em que Marcelo Tass apresentou aos telespectadores a filha gay (torço para que nenhum de seus repórteres enfie o microfone na cara da moça na saída de uma festa para fazer perguntas constrangedoras).

Todo mundo fatura com o cerco a Bolsonaro. E como o deputado é uma figura das mais execráveis, quase ninguém percebe que com a sua desgraça a liberdade de expressão pode também sofrer lamentáveis avarias.
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POR José Pires

terça-feira, 5 de abril de 2011

A máfia já não tem quem aceite suas flores

É do Maranhão que veio uma oportuna posição crítica sobre este costume de fazer da morte dos políticos um momento de hipocrisia, quando se busca lembrar qualidades que o falecido não fez questão alguma de cultivar enquanto esteve vivo. Falei disso aqui, comentando o quanto se mentiu sobre a vida do ex-vice do Lula, José Alencar.

Foi a família do ex-governador Jackson Lago que deu o bom exemplo. Logo que foi anunciada a morte de Lago, o senador José Sarney soltou uma nota cínica cheia de lamentos. Estava claramente tentando se aproveitar políticamente da comoção com a morte do adversário

Sarney caprichou na nota, mas levou um chega pra lá da família do morto. A atitude de Sarney me lembrou a do então presidente Lula no enterro de Ruth Cardoso. Com a diferença que a família dela aceitou que ele posasse para os fotógrafos com cara compungida ao lado do caixão da mulher de Fernando Henrique Cardoso. E isso foi poucos meses depois de seu governo acusar o casal de gastos excessivos quando FHC foi presidente.

Se deixassem, Sarney com certeza teria cara-de-pau até para segurar a alça do caixão de Jackson Lago. A nota é um dos cocumentos mais cínicos dessa República em que tantos documentos cínicos foram produzidos. Porém, mesmo com tanta hipocrisia dando lastro à política brasileira a nota do Sarney é uma peça tão rara que vale a pena ser transcrita na íntegra. Lá vai:

"A morte é um fenômeno transcendental que encerra todas as vicissitudes da vida. É com grande comoção que lamento o falecimento do Governador Jackson Lago, figura expressiva que dominou a política maranhense durante quase meio século. É com respeito que proclamo o seu caráter, a coerência na defesa de suas idéias e o idealismo com que exerceu os vários cargos que ocupou na vida pública. Ele deixa o exemplo de cidadão, de chefe de família, de homem público e o Maranhão tem a gratidão dos serviços que prestou à nossa terra.

Eu e Marly nos associamos à dor de sua esposa e de sua família, do povo maranhense e da classe política pela perda que acabamos de ter. Pedimos a Deus que nos conforte com a lembrança de sua vida e de tudo de bem que fez pela sociedade, pelo Estado e pelo País".


O beletrista que protagoniza o livro "Honoráveis Bandidos" deve ter pensado que o palavrório seria tocante. Sarney só não explica porque maquinou de todas as formas para tirar um homem tão bom do governo do Maranhão, o que acabou conseguindo fazer para botar a filha no governo maranhense que ela havia perdido nas urnas.

Mas os amigos e familiares de Jackson Lago não se deixaram enrolar num momento de tanta comoção. O ex-chefe da Casa Civil do Maranhão e ex-deputado estadual do PSDB, Aderson Lago, primo do ex-governador, foi no ponto ao repudiar a nota: "A máfia que mata é a mesma que manda flores, faz elogios e vai ao enterro".
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POR José Pires

sexta-feira, 1 de abril de 2011