segunda-feira, 30 de junho de 2014


Regime de camisa de força

O tal do bolivarianismo que tomou conta pela força da Venezuela é mesmo um mundo à parte, que não respeita nem regras do bom senso. Na verdade, nem o senso do ridículo consegue penetrar na fechada corte política que hoje controla o país. O presidente Nicolás Maduro dizia que fez contato com o falecido Hugo Chávez por meio de um passarinho e é provável que ele acredite mesmo que teve esse tipo de comunicação com o chefe. O bolivarianismo não cabe numa ideologia. É coisa de hospício.

Neste sábado tivemos mais uma demonstração do grau de doidice daquele governo. Foi celebrado por lá o Dia do Jornalista, quando concederam vários prêmios. A premiação foi feita por um tal de Movimento Jornalismo Necessário, que parece ter uma semelhança de propósito com jornalistas governistas brasileiros que pregam o controle da informação. Os sites e blogs sujos que servem ao governo do PT iriam se dar muito bem no regime chavista.

Na premiação, até o presidente Nicolás Maduro foi contemplado com uma menção especial "por seu destacado trabalho no Twitter". Mas o prêmio mais significativo foi do ministro do Interior, general Miguel Rodríguez Torres, a autoridade do governo bolivariano encarregada de reprimir os protestos que já duram três meses naquele país. Já aconteceram prisões seguidas de maus tratos e torturas, além de mortes de manifestantes. A repressão é violenta, inclusive com ativistas da oposição sendo alvo de espancamentos e tiros disparados por agentes do governo e militantes governistas.

Pois Rodríguez Torres recebeu o prêmio de "comunicador do ano". E a justificativa para a bizarra homenagem ao general? Foi por ele “informar de forma oportuna e verdadeira sobre os acontecimentos violentos". É do mais pesado humor negro, mas não tem como não rir. Como é que se diz "piada pronta" em espanhol? Mas o grotesco ficou ainda mais, digamos assim, apurado, com a revelação feita pelo militar das fontes filosóficas que segue para dizer sempre a verdade: "Os dez mandamentos, as palavras de minha mamãe e o código de honra do cadete". São palavras literais do premiado. Eu bem disse pra vocês: é difícil identificar a ideologia de um governo tão amalucado.
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POR José Pires

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Imagem- No recorte do jornal espanhol "El Mundo", Nicolás Maduro e o ministro do Interior, general Miguel Rodríguez Torres, o “comunicador do ano” da Venezuela.

sexta-feira, 27 de junho de 2014

Piração no Paraná

Já falei aqui da surpresa do PMDB ter decidido pela candidatura de Roberto Requião ao governo do Paraná. O partido já era tido como aliado garantido de Beto Richa para sua reeleição. A decisão é uma interessante reviravolta política, mas tem um problema: o próprio Roberto Requião. Os paranaenses de bom senso sentem até arrepios em pensar na volta ao governo de um dos políticos mais abilolados e autoritários deste país. Requião parece o maluco do Suárez. Na política é igualmente um craque, mas o problema é que ele também morde.

A personalidade complicada de Requião já alcançou fama nacional, com situações pitorescas, como o dia em que o presidente Lula mostrou-lhe uma cumbuca com sementes de mamona. Sem pensar, ele meteu um punhado na boca e mastigou como se fosse um petisco. Teve que cuspir de imediato a semente tóxica. E ele tem também seu lado autoritário, que mostrou muitas vezes, uma delas nos corredores do Congresso Nacional, quando roubou o gravador de um repórter depois de se incomodar com um questionamento.

Daí o frio na espinha que causa a possibilidade da sua volta. Antes do governo atual, Requião teve dois mandatos como governador. Foram anos conturbados no Paraná, um longo período de conflitos e trapalhadas, com ele se metendo em tudo, de forma agressiva e abusando de seu poder. Muito mandão, ele desautoriza secretários, desmerece o trabalho do funcionalismo público e até humilha subordinados e pessoas humildes publicamente. Durante seu governo ele inventou uma reunião semanal em um auditório com secretários e funcionários graduados. O evento era motivo de chacota e era chamado pelos paranaenses de "Escolinha do Professor Raimundo". Tem esse lado jocoso, mas era também um ritual de humilhação, com Requião dando de dedo em secretários e fazendo piadas grosseiras, com tudo isso sendo filmado e transmitido pela emissora estatal de TV.

Foi um tempo de eterno quiproquó no Paraná, com o governador sempre criando encrencas com alguma área do funcionalismo ou da iniciativa privada. Nesses oito anos de conflitos sobrou pancada até para as universidades públicas. O Paraná tem universidades estaduais de bom nível, como a UEM, de Maringá, e a UEL, de Londrina. No plano nacional, Requião busca compor uma imagem progressista de defensor da Educação, mas com ele as universidades sofreram muito. O que professores e servidores recebiam do governador eram insultos. Requião chegou a brigar com comissões de professores que buscavam diálogo para resolver problemas salariais e de manutenção do ensino superior. De estilo extremamente centralizador, no final de seu governo até autorização de viagem de professores para estudos e pesquisas ele puxou diretamente para si. E é claro que não decidia nada.

Suas confusões com os professores universitários foram parecidas com as que teve com funcionários públicos de outros setores, além das encrencas com empresários, prefeitos e qualquer um que não baixasse a cabeça. Sua forma de governo era um caos administrativo e político, com ele no centro colocando nos outros a culpa de problemas que eram de sua responsabilidade. Sua candidatura traz a possibilidade da volta dessa desagradável confusão. A Copa do Mundo já ficou livre do maluco do Suárez. Agora é o Paraná que corre o risco de levar umas mordidas.
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POR José Pires

terça-feira, 24 de junho de 2014

Já vai tarde

O senador José Sarney é um histórico estraga-prazeres. Quando o Brasil saia da ditadura militar, em 1985, esperava-se com a eleição de Tancredo Neves um reordenamento da vida política brasileira. Mas aí aconteceu com a saúde dele aquilo que todo mundo sabe. Para um país que tinha esperança de começar a traçar um caminho mais decente foram dois choques: a morte de quem encarnava esta esperança e aparição súbita de um político desprezível, que estava como vice de Tancredo exatamente pela deslealdade que tivera com os militares que deram sustentação à sua carreira política e até ali davam o reforço das armas para seu domínio sobre o estado do Maranhão.

O estraga-prazeres era José Sarney, que acabou assumindo a presidência. O país ainda vivia o temor de um retrocesso político e por isso não conseguiu tomar a medida mais certa, que era chutar Sarney para o lixo da História, dar a posse ao presidente da Câmara dos Deputados e seguir os trâmites legais da redemocratização. Bem, quem estava lá naquela época sabe que essa medida que hoje parece tão simples era de uma complicação sem tamanho para aquele Brasil ainda com os coturnos às suas costas. Com Sarney, em vez de um reordenamento de qualidade armou-se no governo a máquina da corrupção e da incompetência que aí está até hoje.

Nesta segunda-feira, Sarney anunciou que não vai tentar a reeleição ao Senado. É mesmo um estraga-prazeres. Vai tirar o gostinho dos eleitores do Amapá de chutar-lhe o traseiro pelo voto, dando também ao país a satisfação de uma limpeza de forma objetiva, sem a chance dessa fuga de uma derrota certa desta vez. Sua eleição ao Senado em 2006 já foi por pouco. Por pouco não foi derrotado pela então desconhecida Cristina Almeida, do PSB. Mas o jogo foi pesado. Sarney fazia dobradinha com Lula, com quem depois deu seguimento ao usufruto do poder sem nenhum escrúpulo, um projeto de vida que se deu muito bem com a forma do PT fazer política.

A própria situação de Sarney como senador do Amapá é uma demonstração do estado de decadência ética da política brasileira e até da falta de respeito à regras básicas, tal como o político residir de fato no seu assim chamado "domicílio eleitoral". Sarney nem aparece no Amapá, estado onde ele já ganhou três mandatos. Em 2013 esteve apenas duas vezes na capital, Macapá. A casa onde legalmente é seu domícilio eleitoral está fechada. Nesta última segunda-feira ele esteve no estado e foi bastante vaiado numa cerimônia, ao lado da presidente Dilma Rousseff. O anúncio da sua desistência veio logo depois da notícias das vaias. É uma saída melancólica da política, mas não deixa de ser também melancólica para o Brasil, um país que não teve meios para impedir pelas vias legais e pelo voto uma carreira política tão nefasta.
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POR José Pires

Quiproquó na direita

No Facebook costuma acontecer muita confusão, mas eu nunca tinha visto um arranca-rabo como o que vem ocorrendo entre Olavo de Carvalho e parte de um pessoal em torno dele. Sua página vive lotada, no limite dos cinco mil e ele tem 65 mil seguidores. Mas sempre está abrindo alguma vaga, pois um questionamento pode levar o professor de filosofia a excluir o petulante. Esta eliminação pode ser precedida de uma bronca feia, inclusive com xingamentos.

Assim vem sendo neste novo atrito, de maior volume que os anteriores porque vem juntando gente em torno da polêmica, com um dos lados fazendo um retrospecto da tirania do mestre sobre os que o cercam. Os alvos dos ataques de Carvalho são Francisco Razzo e Gustavo Nogy, dois jovens expoentes do pensamento de direita.

O aborrecimento de Carvalho começou com uma entrevista de Razzo ao site “O Camponês”, onde se falou sobre a ampliação do espaço intelectual da direita no Brasil. Razzo citou então vários pensadores e acabou deixando de lado o nome de Olavo de Carvalho. Esta omissão causou um descontentamento entre seus admiradores, alguns deles alunos que o seguem com fanatismo. A fúria do professor veio com um post publicado por Razzo, procurando esclarecer o que disse na entrevista. O post foi linkado com entrada na página de Carvalho e daí veio todo o quiproquó.

Gustavo Nogy entrou na história apenas por ter escrito um breve post solidarizando-se com Razzo e fazendo uma rápida análise, quando afirmou que também para ele Olavo de Carvalho não era uma influência determinante. Fez isso com o maior respeito e vem afirmando sucessivamente sua grande consideração pelo papel político e intelectual de Carvalho. Mas só vem recebendo pauladas.

Olavo de Carvalho não deixa de ter razão em se aborrecer com dois jovens que fazem uma leitura equivocada até das suas próprias situações pessoais na atualidade. Razzo e Nogy estão para lançar seus primeiros livros, após um relativo sucesso na internet. Sem dúvida, não teriam esta projeção hoje em dia para expressar suas ideias se não tivesse existido o longo trabalho anterior de Carvalho na criação do espaço que se abriu para o pensamento de direita. Sua atuação foi de início numa dureza total e um isolamento intelectual suportados com uma fibra admirável. Nada contra que um jovem direitista aponte um Leo Strauss, um Allan Bloom ou até mesmo um Aristóteles como essenciais na sua formação pessoal, mas é óbvio que não foi deles e nem de quaisquer outros a conquista direta do espaço que o pensamento de direita tem atualmente no país.

Isso se deve em grande parte a Olavo de Carvalho, que apesar da ranzinzice insuperável é um dos textos de maior qualidade que já se teve no país e um pensador que trouxe questionamentos essenciais à esquerda no poder. De insuperável também são minhas divergências com suas posições políticas em muitos aspectos, a começar pelo religioso, mas na minha visão o país tem a ganhar com um espaço intelectual aberto para o pensamento de direita. O debate nacional precisa de conservadores que pensem com razoável qualidade.

O problema de Carvalho nesta polêmica foi a desproporção de sua reação em relação aos fatos. Apesar de sofrer ataques grosseiros, Nogy vem respondendo de forma rigorosa e com boa educação aos questionamentos que surgem em sua página. O professor de filosofia mantém até agora a mão pesada nos seus posts. No final, foi feito um furdunço de uma questão que poderia ser desenvolvida em um debate equilibrado. Bem, mas aí o Olavo de Carvalho não seria o Olavo de Carvalho. No entanto, o resultado disso pode ser muito ruim para seu próprio trabalho, que até aqui vem prosperando de tal forma que afeta até o poder da esquerda. Ele mesmo pode ter criado dentro da ala mais inteligente da direita brasileira um racha que nem seus adversários sonhavam.
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POR José Pires

sábado, 21 de junho de 2014

Presença inesperada

Já estava tão certa a reeleição do governador do Paraná, Beto Richa, que a opinião corrente era a da sua vitória já no primeiro turno. Sua concorrente direta vinha sendo a senadora Gleisi Hoffmann, mulher do ministro Paulo Bernardo. O casal é de muito prestígio no governo do PT, desde o primeiro mandato de Lula. Porém, os dois têm mostrado que a habilidade no aproveitamento do poder não se converte, da parte deles, em fortalecimento do projeto político que os sustenta. Ao contrário. Gleisi Hoffmann é desatenta a ponto de levar para trabalhar no Palácio do Planalto um assessor que acabou sendo preso acusado de estuprar menores. E seu marido, Paulo Bernardo, foi quem alimentou todo o crescimento vertiginoso da carreira de um pupilo que hoje em dia não vale um dólar furado: o deputado André Vargas.

Com adversários desse feitio, Beto Richa já estava crente que passaria o cargo para ele mesmo. Até que apareceu o senador Roberto Requião para estragar o passeio do tucano. Ele será candidato a governador pelo PMDB. Com este fato novo, já se fala que o segundo turno é inevitável. Pois eu digo que Richa pode até perder para Requião, caso não conserte com urgência os erros que vêm cometendo. E deixe de cometer novos, é claro. Um grave engano foi a confiança excessiva nos líderes peemedebistas que aliciou com cargos no governo. O PMDB já era dado como fechado com a reeleição do governador.

A vitória de Requião no PMDB foi uma surpresa que serve inclusive como forte impulso emocional à sua candidatura. O toque de garra é de um peso que ajuda muito em política e Requião já mostrou que tem pique para sustentar um ritmo desses até o fim. O cara é fogo. Com certeza ele vai trazer à disputa um teor crítico que Richa terá de ser muito hábil para enfrentar sem borrar sua imagem de bom moço.

Requião tem uma personalidade terrível e não é de hoje. Vou contar uma história dele, dos anos 70, extraída do livro “Como se fiz por si mesmo”, obra-prima memorialística de Jamil Snege, escritor curitibano que apesar de ter sido sempre pouco notado é um dos maiores do país. Snege perdeu muito tempo trabalhando em publicidade. Ele mesmo dizia isso no final da vida, que acabou pra ele em maio de 2003. Foi também marqueteiro político, quando fez várias campanhas para Requião. Vamos a um trecho que extraí do livro dele, “datilografado” à antiga.

“O que Roberto Requião fazia nos inícios de 70? Guerrilha, revolução armada, sublevação das massas. Porra nenhuma. Chegava em minha casa geralmente no sábado, com a mulher Maristela, sentava-se num sofá xadrez e até uma, duas da madrugada, entretinha a platéia com casos do mais irreverente e cáustico humor. Findo o repertório, escolhia uma vítima entre os presentes e torturava-a até a morte, a menos que alguém o interrompesse com um prato de spaghetti à matricciana.”

Este é o Requião. E o Paraná inteiro sabe que nesses últimos quarenta anos ele piorou bastante. O Beto Richa que se prepare. O spaghetti à matricciana virá só depois da eleição.
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Por José Pires

quinta-feira, 19 de junho de 2014

Cofres fechados para a oposição

O Paraná é um dos estados brasileiros que sofre o descaso federal um tanto a mais que os outros porque tem um governador de oposição, o tucano Beto Richa. Em Brasília, o governo do PT fecha o cofre depois de levar embora os impostos dos paranaenses. Não cede nem nas questões básicas. Com a sórdida manipulação deixam o estado em situação muito ruim, para então aparecer uma ajuda vinda pelas mãos de um político petista. Quem faz isso é a senadora Gleisi Hoffmann, candidata ao governo estadual e mulher do ministro Paulo Bernardo, chefe absoluto do partido no Paraná.

Dinheiro dos paranaenses só volta ao estado dessa forma, com o clientelismo que o PT tornou uma política de Estado. Gleisi Hoffmann vive rodando pelo interior entregando ambulâncias, tratores e outro tipo de benefício para os prefeitos. É uma indignidade. Usam o dinheiro público como se fosse uma bondade pessoal. Até há pouco tempo a senadora fazia isso na companhia do deputado André Vargas, antes de ele virar persona non grata entre seus ingratos companheiros.

O plano petista é óbvio. Fazer do Paraná uma terra arrasada. Movidos pela ambição, para eles os meios justificam os fins, que é sempre mais e mais poder. Dessa forma criam o cenário ideal para o marqueteiro de campanha trabalhar. Mas tem ocasião que a situação fica feia demais, o que cria uma urgência na encenação pública de caridade. Talvez pela pressa ou mesmo por um ato falho, a impressão que passam é a do deboche. O Paraná vem sendo castigado com chuvas pesadas que causaram muitos estragos. Então, na semana passada, Gleisi levou ao governador uma ajuda em recursos federais: R$ 140 mil. Mesmo na desgraça, os paranaenses não tiveram como não rir.

Como pegou muito mal, os petistas trouxeram a presidente Dilma Rousseff para fazer o papel de caritativa governante. É claro que ela tinha ao lado a senadora Gleisi Hoffmann. Em União da Vitória, palco da cerimônia de adjutório, Dilma disse que o Exército tem “bote de fibra ótica” para ajudar o Paraná. A presidente é assim, sempre dando trabalho aos humoristas que a imitam. É uma labuta dura criar uma cópia mais engraçada que a original. E essa acaba sendo a serventia dela hoje em dia. Dilma desopila o fígado dos sofridos brasileiros.
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Por José Pires

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Imagem- A presidente Dilma com Gleisi Hoffmann e o ex-companheiro André Vargas nos tempos em que formavam o trio que fazia de conta que ajudava os paranaenses. Hoje restou só a dupla Dilma e Gleisi.

quarta-feira, 18 de junho de 2014


terça-feira, 17 de junho de 2014

Chico César afinado com a grosseria do PT

O cantor Chico César andava sumido. Eu sabia que ele havia voltado à sua terra natal, a Paraíba, onde virou secretário estadual da cultura. Antes havia sido presidente da Fundação Cultural da capital, João Pessoa. Agora há pouco soube de seu atual paradeiro: entrou na onda do PT de desqualificar quem discorda do governo. Ele fez um texto — que parece uma letra de música — sobre as vaias recebidas pela presidente Dilma Rousseff na abertura da Copa do Mundo. Deve ser a inspiração mais bizarra que já existiu na MPB. O conteúdo é igualmente fora dos eixos. O cantor embarca na onda marqueteira do PT, que tenta fazer do episódio um embate de classes e racial.

Atolados na lama de uma governo que não anda pra frente, os petistas tentam fazer Dilma de vítima. Não vem dando certo, até pela desproporção entre o fato e o barulho que fazem. Até aí nenhuma surpresa. No PT esta hipocrisia é uma marca histórica. Mas a entrada em cena de Chico César é lamentável. E não é por ele estar num lado que eu julgo errado, nada disso. Fazer letra pra uma reles jogada partidária e eleitoral diminui qualquer artista, independente do partido que possa ser favorecido.

Do tema esdrúxulo, Chico César extraiu um equívoco, nem vou dizer artístico — que não dá para tanto. O problema é moral. Também para ele os torcedores que vaiaram Dilma são da "elite". Os petistas vêm falando em "elite branca", desqualificação indecente e racista que aponta um caminho inclusive perigoso na política.Quem vaiou Dilma, ele escreve, mora "em condomínio fechado". Este é o nível. O PT aposta o tempo todo na divisão entre os brasileiros e este é um de seus piores defeitos. Mas o que é que deu no Chico César de meter isso na sua carreira artística? É tão pesado que atinge até parte considerável de seu público. Mas a rede governista de sites e blogs sujos está adorando.

Seu ataque chega a ser indecente. Ele diz que "os vaiantes sentem-se frustrados na falta de desastres". Se não fosse uma canalhice, isso seria para rir. É uma grosseria com quem vem alertando para os riscos de uma Copa do Mundo mal organizada, com estádios e acomodações feitas às pressas. E chega a ser idiota afirmar que a falta de um desastre pode causar frustração. Ninguém é burro igual petista da época em que o PT era da oposição do quanto pior melhor. Com os torcedores que vaiaram Dilma a acusação é ainda mais cretina. Como é que alguém que vai a um estádio pode querer que aconteça um desastre exatamente no lugar onde está? Para não sair frustrado por não ter visto uma pilastra cair na cabeça de um filho ou amigo, seu Chico César?

A letra sobre as vaias segue neste mesmo tom de baixo nível. Publico abaixo na íntegra para vocês sentirem o drama. Chico César já fez campanha para o Lula e também para Dilma Rousseff. Discordaria dele mesmo se o apoio tivesse sido aos adversários tucanos, Geraldo Alckmin e Serra. Não acho que artista deva se engajar em campanha eleitoral alguma e vejo esta excessiva partidarização da arte no Brasil como outro dos defeitos do PT. É política partidária demais dividindo os brasileiros. Mas cada um faz o que quer, é claro. Até mesmo este ataque rasteiro a quem não participa da claque governista.
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Por José Pires

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O TEXTO DE CHICO CÉSAR

chegam antes
vão antes de van
com seus seus ingressos vips

os vaiantes não querem saber
se há crianças na sala de casa vendo tv
eles pegaram os aviões
desceram nos aeroportos
e alguns tomaram o metrô até o estádio
finalmente concluído

tudo funcionou até ali
e os vaiantes sentem-se frustrados na falta de desastres
e felizes em agredir a mulher
muitos vaiantes são mulheres

a euforia
uma certa embriaguez até
de estar ali fazendo ola
e aparecendo no telão de led

a euforia
e uma certa embriaguez até
de pertencer ainda a um grupo
um condomínio fechado dá segurança aos vaiantes

eles precisam gritar em público e em coro aquela palavra
que evitam dizer em casa
na mesa em que se empanturram
para depois fazer dieta
ou debaixo dos lençóis com as luzes apagadas

os vaiantes
crêem que tem o direito de ser deselegantes
pois pagam impostos e muitos deles pagaram pelo ingresso
livrando-se assim de estar na fan fest com aquela gente suada
ou no cheiro de fumaça do churrasco com os vizinhos de prédio

os vaiantes vaiam
porque a copa é aqui
e eles não tiveram de pagar em prestações
as passagens para a espanha, o méxico, o japão, a frança
vaiam pois não precisam se hospedar em cinco pessoas
em quartos onde mal cabem dois

eles vaiam porque estão em casa
mas lá fora aplaudem até microfonia
e as línguas arrevesadas que não compreendem
mas são estrangeiras e deviam estar dizendo coisas interessantes
que fogem a sua ignorância

os vaiantes vaiam
pois sabem que mesmo não perdendo
o que percebem como privilégio de classe
de gente bem
tem mais gente chegando perto de ter acesso
aos mesmos bens e serviços
a seus carros
aos aviões
aos estádios
ås universidades
metrô não que metrô é coisa de gentinha no entender dos vaiantes
tem mais gente chegando perto de sua bossalidade e ignorância

os vaiantes em seu estertor espamódico
mostram-se esquizofrêncos e epilépticos morais
espumando com suas bocas tortas na tv
suas barrigas
suas chapinhas
seus stick lips para manter brilhante o botox labial

os vaiantes sentiram-se eufóricos
pois não sabem distinguir um jogo de futebol
de uma eleição que sabem que o candidato deles perderá
pois confundem um jogo de futebol
com o carro alegre da história cheia de gente contente
que os atropela ou passa ao largo de sua falta de auto-estima

a história vai
os vaiantes ficam aguardando o challenger para se espatifar no ar junto com ele
os vaiantes adoram gran finale
(chico césar)

[Copiado literalmente da página do cantor no Facebook.]

domingo, 15 de junho de 2014


Tentando livrar a cara

Definitivamente, não funciona mais a tática petista de livrar a cara do governo usando como pretexto um detalhe qualquer das situações. A jogada é velha em política e costuma ser usada para evitar críticas. É nojento porque pega-se um detalhe da discussão ou de um acontecimento e com aquilo inverte-se o foco da crítica. A manipulação sórdida é pra fazer a vítima passar pro papel de vilão. O recurso já livrou a cara de muitos patifes nos últimos tempos, mas parece que perdeu de vez a eficácia. Foi o que o PT tentou fazer agora quando mandaram a presidente Dilma Rousseff tomar naquele lugar.

Para fugir de responsabilidades, este governo malandro do PT usou muitas vezes este drible desonesto que evita o debate democrático e serve para abafar críticas. Até o Nelson Rodrigues foi usado para esta mandracaria safada. Ultimamente a presidente e seu chefe, o Lula, vêm mostrando uma surpreendente admiração por aquela expressão do Nelson Rodrigues que fala do “complexo de vira-latas”. Ora, este escritor genial foi massacrado pela esquerda, que por décadas sempre o atacou de forma agressiva. Petista não tem o direito de citá-lo, mas se for fazer isso recomenda-se que antes lave a boca.

Para este comportamento hipócrita o grande Nelson tem também uma frase. Aliás, este maravilhoso escritor criou ótimas frases pra tudo quanto é sem-vergonhice da esquerda brasileira, ele que nos anos 60 e 70 em suas crônicas já apontava com inteligência e estilo brilhante os graves problemas éticos e de comportamento da esquerda brasileira, além de sua tradicional patetice. E a esquerda não mudou nada: é a mesma das suas crônicas. Por isso mesmo, nunca esquerdista algum gostou dele, daí a falsidade na citação da frase do “complexo de vira-latas”. Lula e Dilma têm que lavar antes, já disse. E o problema não é só o da hipocrisia política. Tem a literária também. Lula não sabe ler e Dilma, mesmo tendo aprendido, não é de abrir livro algum. Aliás, nem MPB ela conhece. Senão não diria que o Tom Jobim cantou a volta de exilados políticos, o que ele nunca fez.

Mas agora estou parecendo o Nelson Rodrigues, naquelas fugas ótimas do assunto que ele punha em seus textos, pegando atalhos geniais para então voltar ao que interessa. Voltemos, pois. Mandaram a Dilma tomar naquele lugar e a rede governista correu para tentar desviar o foco, como se xingar um governante fosse uma ofensa pessoal. E não é. Numa fala de protesto muitas palavras têm apenas o sentido da indignação. Parafraseando o assessor de marketing do Bill Clinton: é a indignação, idiota! Ninguém xinga a mãe do juiz para dizer que a pobrezinha está na zona e nem quer que o governante pratique literalmente qualquer ofensa. Vou repetir: é a indignação, idiota.

Mas tem a frase do Nelson Rodrigues, que define muito bem este comportamento hipócrita. Vamos a ela. A frase é “Perdoa-me por me traíres”. Foi título de uma peça teatral do grande Nelson. O governo do PT quer enfiar essa frase na boca dos brasileiros. Eles vinham conseguindo fazer isso, tanto que já são doze anos de traição moral das mais baixas. Mas parece que o brasileiro se cansou de pedir perdão por ser traído.
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Por José Pires

sexta-feira, 13 de junho de 2014

Se fazendo de ofendidos

Depois que a torcida na abertura da Copa do Mundo mandou a presidente Dilma Rousseff tomar naquele lugar a militância petista começou a descobrir novidades espantosas. Já sabem, por exemplo, que o público reunido ali era de quem pode pagar mais de 900 reais por um ingresso. Uau! Podiam até descobrir também a incompetência e a roubalheira na organização. Mas não. Passaram a classificar xingamentos por classe social. Para eles, a indignação com a imoralidade do governo também tem que obedecer a essa classificação. O público foi grosseiro por que é de elite. Ah, então quer dizer que o povão nos estádios não fala palavrão?

Os companheiros queriam bons modos num estádio de futebol, lugar onde acontecem grosserias que independem de classe social. Há décadas toda torcida do Corinthians sabe disso e a mãe do juiz também. Já os petistas levaram doze anos para descobrir. E não adianta os politicamente corretos espernearem: conforme vai baixando o preço do ingresso a barra fica mais pesada. E tenho que apontar a hipocrisia de exigir delicadeza com a governante de um partido que montou uma rede profissional na internet para atacar os adversários da forma mais grosseira e desonesta que já se viu neste país. E vaia e xingamento em estádio não pode, mas as baixarias que a militância escreve nos comentários de blogs, sites e na rede social pode, não é? Tomar naquele lugar é fichinha perto do que os governistas fazem com quem pensa diferente deles.

E os companheiros também são liderados pelo ex-presidente Lula, que só é educado quando manda o marketing. Outro argumento tosco é o de que o insulto foi pior porque foi contra uma mulher. Espera aí, esse pessoal não é o mesmo que fez as maiores grosserias na internet quando morreu a Margareth Tatcher? São eles mesmos. E não vi nenhum conservador se fazendo de bobo e apelando para uma questão sexista em defesa da falecida.

E sobre ser grosseiro com mulher, tem também a Marina Silva, que a militância passou a tratar com insultos muito baixos depois de sua saída do PT. E uma história dela com o Lula revela bem a hipocrisia petista. Aconteceu entre ele e a Marina Silva, quando ela era ministra do Meio Ambiente de seu governo. Durante uma audiência, quando começaram a discutir a transposição do rio São Francisco, Marina dava a opinião contrária dela às obras. Foi então que Lula disse à sua ministra: "Marina, essa coisa de meio ambiente é igual a um exame de próstata: não dá pra ficar virgem toda a vida. Uma hora eles vão ter que enfiar o dedo no c... da gente. Então, companheira, se é pra enfiar, é melhor que enfiem logo". É bem pior que xingamento anônimo da multidão, não é mesmo? Esses são os companheiros que agora na hora do aperto estão querendo que a torcida se comporte com elegância nos estádios.
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Por José Pires

O jornal do dia

Capa do jornal Correio Braziliense de hoje. Uma bela edição de capa, bastante ousada, que avança para a criatividade que é necessária para tratar de um fato do dia anterior. Deram destaque ao material de leitura, com um bom uso de uma figura bastante falada nos últimos dias, o escritor Nelson Rodrigues, e abaixo publicaram as matérias factuais. Ninguém vai ficar sem a tabela dos jogos, as manifestações nas ruas ou as notícias do vexame das autoridades vaiadas na abertura.

Mas isso é bastante incomum em nossa imprensa diária. A maioria das redações brasileiras vem fazendo um produto impresso que não faz sentido. Dão em manchete algo que todo mundo passou o dia anterior lendo e comentando na internet. E nas páginas internas é a mesma coisa. Esqueça a boa leitura e o aprofundamento em qualquer assunto. Os jornais publicam as mesmas coisas que já foram esgotadas pelos internautas em todo o dia anterior, inclusive em blogs, páginas pessoais e na rede social. E o texto desses jornais... Ah, meus amigos, também vocês exigem demais de um jornalista. E quando esses impressos entram em falência a gente ainda tem que aguentar a lorota de que a culpa é da internet.

O Estadão deu a seguinte manchete tomando toda a parte de cima da capa: "Brasil vence Croácia de virada; Dilma é hostilizada pela torcida". O ponto e vírgula e a troca de vaiada por hostilizada é por conta do jornal. E a Folha de S. Paulo não foi melhor. "Brasil abre a Copa com gol contra, virada e vaia a Dilma" foi a chamada, que até pode dar a entender que a Seleção Brasileira vaiou a Dilma. Espero que o escrete não tenha jogado uma banana ou uma coxinha pra ela. Mas eu fiquei curioso com esta virada do Brasil e a hostilidade com a presidente. Logo mais vou pegar a bicicleta e compro o jornal nas bancas para contar pra vocês de quanto foi que o Brasil venceu a Croácia e que encrenca foi essa com a Dilma.
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Por José Pires

quinta-feira, 12 de junho de 2014

Sem a camisa 12

Com a aproximação da abertura da Copa do Mundo tomou certa força uma conversa que busca dar ao ato de torcer pela Seleção Brasileira um valor que nada tem a ver com o comportamento do torcedor comum. Muitas pessoas curtem futebol o tempo todo, muito antes dessa Copa, sem que ninguém veja problema nisso. Existem torcedores até chatos que comemoram qualquer coisa com bombas e barulheira, mas o brasileiro atura mesmo quando a bagunça é muito perto de casa. Tem gente vendo um problema na atitude de torcer nesta Copa que não faz sentido com o histórico do brasileiro.

É bravata tentar criar uma aura de coragem e honradez cívica em torno de quem berra nas arquibancadas, no bar ou na sala de casa, assim como é injusto e até boboca procurar desqualificar as críticas à roubalheira e incompetência do governo nesta Copa como se essas opiniões confrontassem o próprio futebol e a atuação da Seleção Brasileira ou tenham algo a ver com que gosta de futebol.

Essa jogada de má-fé veio do governo do PT e de seus blogs governistas, com aquela apropriação indébita da expressão criada pelo grande Nelson Rodrigues, do “complexo de vira-latas”. É um uso fraudulento. O escritor estava falando de outra coisa. Era sobre auto-estima, que nada tem a ver com as denúncias sobre a péssima organização desta Copa. Ninguém está com vergonha do Brasil. O que temos é vergonha da corrupção e da má administração de um evento esportivo.

Eu até acho que já há algum tempo existe em nossa país um excessivo domínio do futebol profissional, que prejudica inclusive os outros esportes e até mesmo categorias inferiores do próprio futebol. Vejo isso como uma ditadura comercial do futebol, mas isso já é outro assunto. Porém, mesmo com essa divergência quanto à atenção exagerada a este esporte, não tenho hostilidade alguma a quem gosta de um jogo de bola.

Mas é preciso que haja respeito também a nós, que não estamos nem aí para futebol. Eu, por exemplo, não vou torcer coisa nenhuma para a Seleção Brasileira. Minha relação com futebol é praticamente nula, até porque isso ocupa um tempo que eu teria de conciliar com outros interesses. E no exercício físico sou ligado em bicicleta, mas não com a bola. Mesmo assim, repito, não vejo problema algum em quem gosta de futebol. Torçam à vontade, mas não procurem dar a isso um valor acima do que o ato de torcer realmente significa.
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Por José Pires

Merchandising

É até triste ver a imprensa brasileira entrar em qualquer jogada comercial com uma ingenuidade que serve muito bem aos manipuladores. Já faz tempo que redações vêm servindo de suporte para assessorias de imprensa ou mesmo de propaganda. Nossas publicações servem de instrumento fácil para montadoras de automóvel, marcas de bebidas alcoólicas, bancos, fábricas de celulares ou computador, gravadoras, editoras e tantas outras empresas, bastando para isso ações de suas assessorias, que muitas vezes são presentes pessoais dos mais bobocas, às vezes um bagulho eletrônico de presente ou viagens pagas pelas empresas para jornalista fazer matérias aduladoras sobre lançamento de produtos.

Na maioria das vezes nem precisa de presentinho. Os grandes estúdios de Hollywood recebem hoje em dia da nossa imprensa uma cobertura que é tão bajuladora quando a propaganda que eles mesmos fazem de seus filmes. Sites brasileiros e publicações impressas embarcam em qualquer onda publicitária que venha do exterior. É um resultado da política de ocupação ligeira de espaço. Lembram do famoso "selfie" feito por Ellen Degeneres com vários astros de Holywood na noite da entrega do Oscar? Pois é, aquilo foi uma jogada publicitária da Samsung.

Agora, com a abertura da Copa do Mundo, teremos também performances encenadas para parecerem natural, mas que no fundo tem um planejamento rigoroso. Esta entrega de um retrato do jogador Neymar pelo pintor Romero Britto parece ser uma dessas jogadas. A imprensa trata o assunto como se fosse uma homenagem espontânea, assim como a aceitação da parte do jogador, que logo depois deu publicidade ao fato em seus perfis na rede. Então tá: o artista está em casa e resolve fazer um retrato de um jogador dos mais bem pagos do mundo, depois pega um táxi e vai entregar a obra ao destinatário, que o recebe da forma mais despojada e logo publica a foto na internet.

Ora, atletas como Neymar não dão um passo sem um planejamento de sua assessoria e o respeito à cláusulas de contratos publicitários. E também não é pelo valor artístico que Romero Britto ganhou destaque na mídia. O marketing pessoal dele é muito forte e envolve bastante dinheiro. E Britto também é "embaixador" da Copa, cargo que obviamente não ocupa de graça, então é um serviço dele. Mas o encontro pode ter também em vista um outro projeto de muito ganho financeiro, talvez até a marca de algum produto proximamente, caso Neymar se dê bem nesta Copa do Mundo. Pode ser caneca, vaso de flores, capinha de celular ou qualquer outro badulaque, que o Romero Britto está aí para isso mesmo.
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Por José Pires