quinta-feira, 14 de setembro de 2017

José Dirceu: herói do povo brasileiro só no gogó

A pena do ex-ministro José Dirceu no processo do recebimento de R$ 10 milhões em propinas da empreiteira Engevix pode sofrer um aumento no TRF4. Esta é a opinião da maioria dos juízes, com a decisão do relator João Pedro Gebran Neto de aumentar para 41 anos e quatro meses e o revisor Leandro Paulsen para 27 anos, 4 meses e 20 dias. Em maio do ano passado, já houve a condenação pelo juiz Sergio Moro a uma pena de 20 anos e dez meses de prisão. Os dois juízes consideram que existem "inúmeras provas testemunhais e materiais” contra o político petista que Lula dizia ser o “capitão” de sua equipe de governo. Falta o voto apenas do terceiro magistrado, Victor Luiz dos Santos Laus, que pediu vista do processo.

Essa notícia sobre o provável aumento de pena vem logo após ele fazer pouco caso de seu antigo colega de governo e da cúpula petista, o ex-ministro Antonio Palocci, que resolveu delatar crimes do partido e do chefão Lula. Em notícia obviamente vazada pelo próprio Dirceu, ele disse ainda que “só luta por uma causa quem tem valor”. Achei muito bacana, ainda que existam informações suficientes para desconfiar que isso é só bravata.

A história pessoal de Dirceu não confere com esta exibição de bravura. E não estou falando dos anos de poder nos governos do PT, mas de muito antes. Depois do famoso Congresso da UNE de 1968, tentativa de reunir na clandestinidade cerca de mil estudantes numa cidade do interior paulista, que acabou com todo mundo preso, o ex-ministro foi para Cuba, onde teve treinamento militar e formação política. Votou depois ao Brasil para montar uma guerrilha, como continuidade do plano de Fidel Castro de estender a revolução comunista cubana para todo o continente latino-americano.

Acontece que em vez de ir literalmente à luta, Dirceu montou uma loja de armarinhos em Cruzeiro do Oeste, no Paraná. Ninguém sabe com que dinheiro. Na pequena cidade casou com uma mulher que nada sabia de seu passado e por lá ficou de 1975 a 1979, sem participar de nenhuma ação política, até que veio a anistia política no Brasil. São acontecimentos comprovados de sua vida, que não revelam disposição de morrer pela causa. E isso numa época muito violenta, na qual companheiros seus foram torturados e até mortos.

Nesta fase muito quente da vida do país não houve em paralelo no histórico de Dirceu este engajamento vital de que ele falou para desmerecer o ex-colega de partido. O valente passou detrás de um pacato balcão de loja todo este período que costuma ser chamado de “anos de chumbo”. Daí que este aumento de pena de prisão pode ser uma oportuna chance para uma demonstração prática de sua alegada coragem e da capacidade de sacrifício pela “causa”. Ele terá tempo de sobra para isso.
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POR José Pires

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