quarta-feira, 18 de outubro de 2017

Danilo Gentili: a crítica do crítico

Nunca gostei do comportamento de Danilo Gentili, desde a época em que existia aquele lamentável programa de televisão, o CQC, onde supostos comediantes fingiam ser jornalistas para acossar artistas e políticos, forçando situações constrangedoras e extraindo cenas impactantes para o programa obter audiência. Do CQC saíram duas estrelas, Gentili e Monica Iozzi, uma de direita e outra de esquerda, lamentáveis quase na mesma medida, o que não poderia ser diferente em razão da origem dos dois e do fato de não terem acrescentado nada de mais inteligente às suas atividades. Pode-se prever um futuro de muito sucesso para essas figuras. Vivemos tempos em que a capacidade técnica e a criatividade foram rebaixadas como critérios de mérito.

A esquerda também não gosta de Gentili, mas evidentemente não é pelo meu padrão de avaliação. A militância do PT e de outros partidos esquerdistas costumam atacar o apresentador de televisão mais por qualidades inerentes ao que ele faz do que por seus defeitos. É o que vem acontecendo neste episódio da demissão de um jornalista da Folha de S. Paulo, ocorrido logo após uma entrevista com Gentili. A demissão de Diego Bargas veio da polêmica entre ele e o apresentador, que não gostou da matéria publicada pelo jornal sobre seu filme "Como se tornar o pior aluno da escola", com estreia recente.

Com o advento das redes sociais essas polêmicas ficaram comuns e costumam ser usadas até com objetivo meramente comercial, como parece ser nesta polêmica artificial. É evidente que ele está usando a esperteza de sempre. Batendo de frente com a Folha conseguiu colocar seu filme como um assunto dos mais comentados. Ele faz isso de forma pesada. Seu humorismo é grosseiro, com o uso inclusive de escatologia, sexismo dos mais chulos, apelando até para deficiências humanas congênitas. Ele surfa numa onda atual, em águas sujas que instigam um público da pior índole.

A pressão que este tipo de celebridade pode lançar sobre os adversários não é justa e exige ser melhor regulada pelo bom senso editorial dos veículos de comunicação, mas quem se mete em comunicação tem a obrigação de saber que este é o processo que envolve hoje em dia o debate com certas figuras de peso na internet. Um jornalista de um órgão como a Folha tem ainda menos justificativa para se fazer de desavisado depois de entrar em polêmica com alguém como Gentili. Isso é tão verdadeiro que o próprio jornal determina regras contratuais de comportamento para seus jornalistas nas redes sociais. E foi pela transgressão dessas regras que o jornalista foi demitido e não pelo fato de Gentili ter “pedido sua cabeça”, como tem muito esquerdista espalhando por aí.

E olhem que este foi um dos casos em que Gentili pegou menos pesado, levando em conta que ele é o sujeito que esfregou nas partes baixas um documento enviado pela Câmara Federal em nome da deputada Maria do Rosário, filmou a cena e pôs o vídeo na internet. Neste quiproquó armado por ele com a Folha, o apresentador apenas divulgou o vídeo da entrevista para o jornal (no qual o entrevistador demonstra um despreparo que só não impressiona porque já se sabe que hoje em dia está assim no jornalismo) e foi atrás do histórico do jornalista, encontrando várias manifestações suas em apoio ao PT, a Lula e à Dilma Rousseff, algumas delas de um despreparo político ridículo. O que se formou a partir disso foi um espetáculo grotesco — infelizmente tão comum que ninguém pode se fazer de surpreendido nem de vítima — com manadas de ignorantes impelidas ao ataque, inclusive a esquerda comprometida com o governo petista derrubado pelo impeachment. A única diferença é que a esquerda teve dispersada a poderosa manada de antes e agora só ataca em pequenos bandos.
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POR José Pires

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